sexta-feira, maio 04, 2007

GALLO PÔS O OVO DE COLOMBO

GALLO PÔS O OVO DE COLOMBO

Um dos pilares da história oficializada do Colombo tecelão genovês é um documento de duas páginas divulgado por Muratori, já no séc. XVIII e incluído numa colectânea de textos, como tendo sido escrito em 1499 por Antonio Gallo, cronista e chanceler do Banco de S. Giorgio em Génova.
Dessas duas páginas sem data, pretensamente um capítulo da obra “Comentariolus”, conserva-se uma cópia (má sina, a dos documentos originais referentes a Colombo) no Arquivo do Estado de Génova, mas sem que alguma vez tenha havido verificação e comprovação científica da sua autenticidade.
Antonio Gallo, sendo chanceler do Banco de S. Giorgio, deveria ser um profundo conhecedor das questões relativas ao Almirante Don Cristobal Colón, pois seria este o Banco onde o Almirante teria (supostamente) ordenado depositar as rendas do seu Morgadio.

Na sua obra “Castigatissimi Annali ... di Genoa”, publicada em 1537, Agostino Giustiniano escreveu: «E Colombo, na sua morte, fez como um bom patriota porque deixou por testamento ao Banco de S. Giorgio a décima parte das suas rendas perpétuas, se bem que o Banco citado (não sei porque razão) não recebeu este legado, nem fez nada para o receber».
Se não fosse já conhecido que esse testamento de Colombo onde se menciona Génova , datado de 1498, é um testamento falso, aqui teríamos mais um forte indício para duvidar da sua autenticidade.

Voltando aos “Comentariolus” de Antonio Gallo, neles se lê:

«Christophorus et Bartholomeus Columbi fratres, natione ligures, ac Genue plebeis orti parentibus, et qui ex lanificii, nam textor pater, carminatores filii aliquando fuerunt, mercedibus victitarent, hoc tempore per totam Europam, audacissimo ausu et in rebus humanis memorabili novitate, in magnam claritudinem evasere....»

Traduzindo para português a partir da versão castelhana obtemos:
«Os irmãos Cristoforo e Bartolomeu Colombo, lígures de nação, nascidos em Génova com origem plebeia, e que viviam do comércio da lã, em que o pai foi tecelão e os filhos, num tempo, cardadores, alcançaram em toda a Europa, nos tempos a que chegámos, uma grande celebridade pela sua coragem e por um descobrimento que será um marco na história da humanidade».
Tem sido geralmente aceite pelos genovistas que este texto atribuído a Antonio Gallo com a data de 1499 terá servido de suporte aos escritos de Agostino Giustiniano e Bartolome Senarega, umas décadas depois.
De facto, uma das frases na obra de Senarega “De rebus genuensis conmentaria ab anno MCCCCLXXXXVIII usque ad annum MCCCCCXIIII”

«Christophorus et Bartholomeus Columbi fratres, Genue plebeiis parentibus orti, et lanificio mercede victitarunt...»

é praticamente retirada daquela frase dos “Comentariolus”.
A autenticidade dos “Comentariolus” de Antonio Gallo é colocada em causa por vários motivos, desde a inexistência de exames comprovativos para a respectiva datação, até ao seu próprio conteúdo, porque Gallo mostra nada saber de Colombo, apesar de se gabar da sua amizade com aquela família.
Há, porém, um aspecto que nos demonstra que, ao contrário do que tem sido defendido pelos genovistas, não foram Giustiniano e Senarega que se basearam em Gallo, mas foi sim o falsificador que forjou o falso excerto do “Comentariolus” de Gallo quem se baseou nos escritos de Giustiniano e Senarega.
É que essas duas páginas soltas do Comentariolus afirmam que os irmãos Cristoforo e Bartolomeu Colombo alcançaram em toda a Europa uma grande celebridade pela sua coragem e por um descobrimento que será um marco na história da humanidade.
Mas, pura e simplesmente, é bem sabido que Bartolomeu Colón / Colombo nunca fez qualquer descobrimento nem alcançou nenhuma celebridade.
O falsificador que forjou o documento baseou-se nos relatos que colocavam Bartolomeu a desenhar mapas em Lisboa, nos relatos do descobrimento que designavam o descobridor por Colombo e lhe atribuíam origem genovesa, e vai daí decidiu, ele próprio, juntá-los na mesma viagem histórica de 1492.

E coitado do irmão Giacomo que não teve direito ao mesmo reconhecimento. A “sua” metamorfose em Don Diego deve ter confundido o “amigo íntimo” da família, a ponto de este não o identificar...

Tal como o episódio do Ovo de Colombo se passou com outro personagem, assim um qualquer falsário atribuíu a Gallo um relato que este não fez.
As duas páginas soltas do “Comentariolus” de 1499 são mentirosas.
É caso para dizer que este Gallo pôs o Ovo de Colombo!

Carlos Calado – 4 Maio 07

2 comentários:

  1. Quem lê tudo com atenção encontra um fio que liga os documentos falsos.
    O Banco de São Jorge.

    Como o Dr. Manuel da Silva Rosa já provou que o Testamento de 1498 é falso ficam todos os outros documentos que eram dependentes deste também falsos.

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  2. Mas, como se vê, apesar disso os genovistas continuam a invocar outros e mais outros documentos.
    Temos de ir mostrando que todos eles são falsos, mentirosos, ou foram mal interpretados.

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