terça-feira, abril 23, 2013

Tributo ao Pai

(In English here) Faleceu a 22 de Abril, 2013, Francisco Garcia da Rosa. Nasceu no Valverde, Madalena, Pico em 1922 e faleceu em Boston, EUA. 

Um homem que sem nunca ter nada, fez tudo o possível para dar tudo aos seus filhos. 

Um homem que preferia doer do que causar dor. Tanto amigo dos inimigos como dos amigos que sempre tentou manter a paz entre todos.

Meu pai, meu amigo e meu herói. Deus que permita que eu possa vir a ser metade do homem que ele foi.

Ele nunca atendeu a escola, aprendeu a ler um pouco com seu pai, Manuel Rosa (Rei), que era umas das poucas pessoas que sabiam ler no Valverde porque órfão de pequeno, meu avô, fora criado pelo padre que o ensinou.

Meu pai ensinou-se a si como escrever durante os meses que esteve internando no Hospital da Horta em 1967, à beira da morte com tubercolose. 
Aqui vai um dos seus muitos poemas:

VERSOS EM POBRE RIMA
Se alguém disser se eu o conheço, lembro-me dizer-lhe assim
Como digo o que de ti penso, se não me conheço a mim?
Nem tu, a ti, te conheces, como queres que engano faça
Serás aquilo que pareces, mas nem conheces tua raça

O mesmo, eu digo de mim "Devo ser homem honrado"
Mas sem princípio nem fim, sou um calculo imaginado
(tirei dos meus cuidados)

Procurei ver-me dentro e fora, até dentro dos sapatos
Vou ver se me conheço agora, mas mal o provo nos retratos
Dentro deste fato que visto, a coisa que ao espelho vejo
Parece-me dizer isto, "Julgas passares por gracejo?"

Mas mesmo é certo que existo? Então pus-me a reparar
Fulano diz-me "Tu és isto", como é que pode ele acertar
Se o que eu sou mal conheço, o homem é um desconhecido
Pois dizem o que eu pareço, e não me acho nada parecido

Todo o homem é desconhecido, mesmo lidando com roupa boa
Está de si despercebido, só pensa "Sou boa pessoa"
Quem pudesse bem filmar, dois homens bem a sério
E fosse depois mostrar, as obras desse mistério
(um diria "Não sou isso" outro "Filmaste outra pessoa")

Era rir ás gargalhadas, discutindo as pessoas
"Não somos nós as filmadas, porque somos pessoas boas"
Isto pode-se bem fazer, mas só sendo ás escondidas
Porque se forem dizer, já se emendam de atrevidas

O mais fácil é dar conselhos, mais custoso nos conhecermos
Não nos conhecemos já velhos, e conselhos nunca os queremos

Francisco Garcia da Rosa –Fevereiro 1994



Foto tirada em 1969 quando Manuel Rosa, o irmão mais velho de meu pai, residente nos EUA desde 1924, visitou o Pico. A foto foi tirada em frente da nossa casa no largo do Valverde. As quatro pessoas a cavalo são meu pai e três dos seus irmãos. Da esquerda para a direita são meu tio José, tio Vital, primo José (filho do tio José) na moto, )o senhor de pé não era parente), tio António, meu irmão Vital ao lado da burra do tio António, meu pai, eu ao lado do cavalo de meu pai e meu irmão José à direita. Todas as casas nesta foro foram destruídas no terramoto de 1998. Novas casas muito diferentes ocupam o lugar hoje.
Foto com meu pai em 2007 no largo do Valverde e a casa nova no local onde
estava a casa onde nasci. 
Foto de 1962, a única vez que os irmãos estiveram todos juntos. 

Foto com três irmãs de meu pai no largo do Valverde c. 1957. Atrás à esquerda vê-se
meu pai em frente da casa onde nasci com meu irmão mais velho ao colo.
(Notem minha tia do meio sem sapatos)

1967, meu pai estava internado no Hospital da Horta por um ano
com tuberculose ficou minha mãe a tomar conta de 7 rapazes,
o mais velho com 14 o mais novo com 2.


UM PAI NOSSO (por Manuel Rosa)
Pai, que não sabes mais que isto
Pai foste e sempre serás até
Mas Pai Nosso! Jesus Cristo,
Só um pai teve e meu pai não é

Não é mais preciso ser crucíficado
Pai, só um Homem foi preciso
Podia ser que visse esse ditado
Utilizando menos coração e mais juízo

Um Pai, precisa ser só Pai
E até Pai só por enquanto
Um Pai precisa ser só Pai
Porque já temos um Espirito Santo

Pai que justiça não conheces
Conheces só manter a paz
Pai que se a Biblía bem soubesses
Tambem de justíça serias capáz

A injustiça sempre foi pecado
Contra os que estão inocênte
Mas meu Pai por ser sacrificado
Não tirará os pecados á gente

Não vai agora ao fim ao cabo
Sabendo tanto erro mal cometido
Não vaia ainda virar o rabo
Para poder ser mais bem batido

Nosso Senhor com certeza
Sabendo que é um filho seu
Não quer vê-lo nessa tristeza
Por coisas que outro cometeu

Sabe bem que nosso Deus é justo
E disse que não deixará entrar
Em sua casa embora por muito custo
Ninguêm que contra ele pecar

A coisa que tem que ser feita
Ás vezes custa mas tem que ser
Sem ferir a terra não se colheita
Sem colheitar não se pode viver

Se a força do mal é tão forte
E mesmo o Diabo enfrentar
Sabemos que só com a morte
A justiça final todos vamos buscar

Deus sempre nos dá a escolha
Para fazer o que é de fazer
Mas com olhos tapados não se olha
E aínda pior é olhar e não ver

Pai que força forte sempre teve
Sempre fugiu para a não usar
Mas ás vezes usar força se deve
Porque nem sempre se pode evitar

Deus próprio com sua vóz
Foi preciso muitos mandar matar
Sabendo que um podre entre nós
Muitos mais podres vem a dar

É certo que Deus não quer
Que se vaia enganar alguêm
Da mesma forma não deve sequer
Deixar-se ser enganado tambêm

Levanta-te de espada erguida
Com a cruz nem tudo é feito
Sabe que os cruzados na vida
Levam a sua cruz é no peito

Não é um pecado afirmar
Os direitos que são só seus
Pecado é vir a deixar ficar
Mais trabalho nas mãos de Deus

Porque se cada um tratasse
Das coisas como devia ser
Não havia mal que se aplantasse
E fosse deixado crescer

Seria curtado em menor
Quando aínda fácil de curtar
Deixando o mal crescer é pior
É mais difícil para endireitar

E cada dia que vai correndo
E vai-se o mal aumentando
Até que esse mal que está vendo
Vai tudo em redor alcançando

Desde o princípio da terra
Desde o bom andar á luz
O mal sempre veio em guerra
Para pregar o bom na cruz

Se há guerra contra a gente
Defender-se não é pecado
Pecado é ver o inimigo em frente
E deixar-se ser crucificado

Deus nos deu poder na vida
Para lutar com sua graça
Se a acção tem que ser cumprida
Não é esperar que Deus a faça

Então qual será a lição
O que é que a Biblía diz
Não é ser justo em coração
E a alma limpa como Deus quiz

Pois ser justo, isso fácil não é
É mais fácil deixar correr o mal
Se não é justo como é que tem fé
No que essa Biblía diz afinal

Dizem que quem deixa pecar
Tambêm assim vai pecando
Tal como o que deixa matar
É o mesmo que se tivesse matando

Se Deus quisesse que fosse assim
Deixar todas as coisas passar
Não precisava de Bibía enfim
Nem palavras para nos ensinar

O que é ser justo então
Ser justo é enfrentar o culpado
Não é ver um engano á mão
E vir deixar-se ser enganado

Ser justo não é esconder segredo
Nem é pretender que não sabe
Ser justo não é fugir com medo
E esconder-se até que a vida se acabe

Deus com toda a sua bondade
Passa justiça e enforça a lei
Pois não deve ser por vontade
Mas por ser um justo e honesto Rei.

Nunca foi fácil ser bom na vida
Ser-se mau é simplesmente alguêm deixar
Mau é uma viela tão simples escolhida
Que não precisa ninguêm ensinar

Ser bom, essa não vem assim
É defícil e precisa muita instrução
Foi o exemplo que Cristo deu enfim
Ser bom é preciso muita lição

Logo desde os primeiros passos
É preciso ensinar do fim ao cabo
Porque é sempre fácil abrir os braços
Para irmos abraçar o Diabo

E o que é que entende uma criança
Se não vem a ser discíplinado
Só aprende com a Diabo a sua dança
E a ver as coisas só do seu lado

Sempre foi o dever dos Pais
Guiar os filhos antes que se somem
Ensinar respeito, justiça amor e mais
Porque não se pode ensinar em homem

Em homem cada um decide por si
E há sempre o bom e o mal
Mas se nunca te ensinaram a ti
Como poderás escolher afinal

Não é tarde para concertar
Algo que esteja a ser mal feito
Só é tarde depois de se enterrar
Deixando tudo deste jeito

Um homem não pode entrar
Dentro do corpo de outro e vir
A alma daquele outro salvar
Cada um tem seus erros a corrigir

Pôr as coisas como devem de ser
Não sou Eu que tenho o direito
Porque é o seu trabalho e dever
Endireitar tudo o que foi dito e feito

Quantas vezes se vai esconder
Fugindo ao que tem que enfrentar
Em vez de rezar e pretender
Que tudo por si vai-se passar

O homem tem que ser justo de alma
Ser justo e direito cá na terra
Tenta-se fazer justiçca com calma
Mas se não der faz-se com guerra

Deus deixou sua lei escrita
E nasce já  do nosso coração
Se fazer vida direito como fita
Para isso precisava muita lição

A justiça sempre foi justo
Sempre foi o dever do Rei
A qualquer tempo a qualquer custo
Tem que se enforçar a lei

O direito sempre foi direito
Sempre foi a lei que Eu ouvi
Não se deve deixar aos outros feito
Quanto menos deixar-se a si


Pai, que só sabes ser isto
Pai foste e sempre serás até
Mas Pai Nosso! Jesus Cristo,
Só um pai teve e meu pai não é

Manuel DaSilva Rosa
29 de Janeiro de 2000


4 comentários:

  1. RE: (...) Todo o homem é desconhecido, mesmo lidando com roupa boa - Está de si despercebido, só pensa "Sou boa pessoa"

    Poucos portugueses fazem introspecção, talvez a insularidade seja propícia a tal, seu falecido pai a fazia inteligentemente bem, paz à sua alma caro compatriota Manuel Rosa.

    Sim, na maioria somos enfatuados e pouco ficamos a saber ao certo o que somos realmente.

    Cumprimentos, José Manuel CH-GE
    Genève Suisse le, 14 mai 2013

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  2. Os meus pêsames caro Manuel Rosa.
    Cumprimentos,
    João Sá

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  3. Caro Manuel Rosa

    Só soube agora.
    Sinto muito. Ainda bem, que o seu Pai estava perto de si.

    Abraço

    Airmid

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