Bobadilla – farsa e fraude
O Pseudo História Colombina publicou recentemente um artigo assinado pelo Sr. Coelho, onde se repetem as listas das já muito conhecidas e sempre refutadas provas documentais sobre a ligação entre o tecelão Cristoforo Colombo e o Almirante Don Cristobal Colón.
Como é sabido, as refutações apontam a falsidade ou a inconsistência daquelas pretensas provas.
Por esse motivo, não vamos, no âmbito deste artigo, voltar a falar sobre os documentos notariais de Génova referentes à família do tecelão Domenico Colombo, o opúsculo de Gallo, as crónicas de Giustinniani, etc.
Devido à novíssima entrada de um novo documento nesse rol, “O Julgamento de Bobadilla”, é sobre este que fazer incidir esta nossa análise.
Começamos então por transcrever um excerto do artigo do Sr. Coelho:
«A discussão sobre a origem plebeia e mecânica de Cristóvão Colombo foi enriquecida recentemente com a publicação da investigação de Bobadilla (1500), que conduziria à destituição do almirante. No âmbito dessa investigação foram interrogadas 22 testemunhas, a maior parte das quais são bem conhecidos através de outras fontes da época. Segundo três das testemunhas (Juan de Salaya, Rodrigo Pérez e Francisco de Sesé), uma ou duas mulheres foram severamente castigadas por afirmarem que Colombo era "de baxa suerte" e "de linaje de texedores".De notar que uma das testemunhas (precisamente o lugar-tenente Rodrigo Pérez) afirmou que esse episódio se havia passado 5 anos antes, ou seja por volta de 1495-1496. Mas, por outro lado, Gallo escreveu em 1499, portanto antes de Bobadilla começar as suas investigações. Ou seja, temos a mesma informação a circular, documentadamente e de forma independente, em ambos os lados do Atlântico desde 1495-1499.»
Segundo a nossa interpretação, Francisco de Bobadilla foi enviado à Hispaniola pelos Reis Católicos com a clara missão de destituir o Almirante Don Cristóbal Colón dos seus cargos, precisamente quando os reis se deram conta que tinham caído na manobra do rei D. João II de Portugal, executada através do fidalgo português infiltrado em Castela com o nome de Cristóvão Colon.
O julgamento a que Bobadilla submeteu o Almirante e seus irmãos foi uma verdadeira FARSA, onde não faltaram colonos dispostos a testemunhar sobre o mau carácter de Colon. E um dos motivos que provocavam a ira do Almirante era precisamente que se afirmasse a sua baixa classe e a sua origem numa família de tecedores. Coincidência das coincidências, 15 anos após a sua chegada a Castela, oito anos após a primeira viagem e se ter tornado Almirante, obviamente sem nunca ter ouvido falar na crónica de Gallo, aquelas testemunhas a milhares de quilómetros da Europa, já tinham ouvido falar que Don Cristóbal Colón seria de baixa classe. Obviamente sem terem sido instruídas por Bobadilla para prestar essas declarações.
É nisso que alguns “acreditam”.
E depois exultam, porque, segundo uma das testemunhas, uma ou duas mulheres tinham sido severamente castigadas e tinham-lhes sido cortadas as línguas, em 1495-96, ou seja 5 anos antes da crónica de Gallo.
Perante este testemunho não haveria dúvidas; mesmo antes de Gallo o escrever, já os colonos da Hispaniola sabiam que o Almirante era de baixa classe.
Se já antes tínhamos dito que o julgamento efectuado por Bobadilla foi uma farsa, dizemos agora que foi também uma FRAUDE.
Para o confirmar, recorremos aos próprios autores que defendem a tese genovista (normalmente não são fiáveis nos aspectos essenciais, mas como se trata de um aspecto aparentemente inócuo, não vemos razão para desconfiar).
Citamos, p. ex., Felipe Fernandez-Armesto, “Cristóvão Colombo” ou Enzo Orlandi, “A vida e a época de Cristóvão Colombo”:
«…consentem (os Reis Católicos) por fim, em aprestar-lhe oito navios, escolhendo com minúcia as tripulações, correspondentes às exigências previstas: 20 marinheiros, 30 moços, 40 proprietários de terras, 50 camponeses, 10 hortelãos, 100 soldados e trabalhadores, 10 artesãos, 20 especialistas em trabalhos de ouro e, por fim, 30 mulheres, as primeiras a serem enviadas para o Novo Mundo. A Niña e a Índia levantam ferro em 23 de Janeiro de 1498…(os outros 6 navios partem em 30 de Maio)»
Portanto, se o testemunho de Rodrigo Pérez foi aceite por Bobadilla, o julgamento foi uma FRAUDE, pois em 1495-96 não havia ainda nenhuma mulher europeia no Novo Mundo, e Don Cristóbal Colón nunca poderia castigar severamente e cortar a língua a alguém que lá não estava.
Carlos Calado – 18 de Março
domingo, março 18, 2007
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