quinta-feira, julho 02, 2009

Fina d'Armada. A SIGLA DE 'COLOMBO'


A SIGLA DE 'COLOMBO' - “A” DE ANRIQUE E ÚLTIMO REBENTO


Palestra pela Historiadora Fina d'Armada, integrada na Conferência de 23 de Maio de 2009. CUBA - Alentejo


1ª Parte


Fina d’Armada, com o seu livro “O Segredo da Rainha Velha”


Gostaria de começar por felicitar a Vila de Cuba por manter viva a chama da nacionalidade portuguesa de Cristóvão Colon, mais conhecido por Colombo. Ao realizar estas conferências, mantém o assunto actual e dá relevo à sua terra.

No romance histórico “O Segredo da Rainha Velha”, desenvolvo, entre outras coisas, uma tese de Colombo português.

Apoiando-me nas entrelinhas da obra de Rui de Pina, “Crónica do Senhor Rei D. Afonso V”, e nos documentos da Torre do Tombo sobre a Infanta D. Beatriz, eu penso que Colombo pode ter sido gerado em Cuba, mas deve ter nascido noutro local. Tal como a rainha D. Leonor conseguiu impedir que o Papa legitimasse um filho ilegítimo do marido D. João II, também a poderosa D. Beatriz nunca permitiria o nascimento dum bastardo que herdasse bens seus. Na altura, ela ainda não tinha filhos.

Suponhamos, então, que o nascimento de Colon teve algo a ver com a fuga do Infante D. Fernando, em 1452, por causa desse incidente Duque de Beja. Talvez a sua amada grávida corresse risco de vida. Colon pode ter nascido no mar Mediterrâneo ou em Nápoles. Nessa cidade, reinava um tio do Infante, irmão de sua mãe, e não tinha herdeiros. D. Fernando queria que esse seu tio o adoptasse, para um dia ser rei de Nápoles, rejeitando a adopção feita pelo Infante D. Henrique. Esse Infante, o 2º homem mais importante do reino, fugiu de Portugal, sem prevenir o rei D. Afonso V, seu irmão, nem o pai adoptivo Infante D. Henrique, porque queria formar uma vida nova. Sozinho? Não creio. Como levou na sua escassa comitiva (com ele eram cinco) Vasco Fernandes de Lucena, um jurisconsulto diplomata que já participara 17 anos antes, em 1435, no concílio de Basileia (1), isso sugere que ele queria anular o seu casamento junto do Vaticano e começar nova vida em nova terra. Colon pode até ter vindo ao mundo no mar Mediterrâneo, dentro do barco do corsário Peroso, corsário italiano que bem podia ser genovês.

Os portugueses de Ceuta, que foram com uma armada atrás do Infante fugitivo, encontraram, segundo Rui de Pina, “uma galé e uma caravela [do Infante], ambas juntas, e a galé era de um Peroso, corsário italiano” (2)

Todavia, se Cristóvão Colon nasceu numa situação de fuga, isso não significa que ele não seja português e que não tenha mantido relações estreitas com os senhores de Cuba. É como naqueles casos em que uma mãe, que vive em determinada terra, vai ter um filho a uma maternidade que fica noutro local e depois há a dúvida de se saber se é natural da terra onde foi gerado ou onde acidentalmente veio a este mundo. A questão da nacionalidade pode não ser linear.


A SIGLA DE CRISTÓVÃO COLON

No entanto, hoje trago aqui uma interpretação da sigla de assinatura de Cristóvão Colon, que iniciei no “Segredo da Rainha Velha” e aqui desenvolvo.

Como se vê, as letras estão colocadas não ao acaso, mas com um aspecto gráfico. Assim, há sete letras dispostas em triângulo, com o vértice para cima, e nove letras na horizontal. Segundo Manuel Freitas: “O triângulo com o vértice para cima simbolizava o fogo e o sexo masculino; com o vértice para baixo, simbolizava a água e o sexo feminino e, pela sua semelhança com a púbis, está muito ligada a motivos de fertilidade (3)

Tal como os menhires, há uma forma anatómica nos triângulos – com o vértice para cima sugerem o membro masculino na pujança da fertilidade. Ora a esse membro dá-se o nome de Colon – apelido do navegador. Ou seja, um triângulo também é um Colon.

Para Pitágoras o triângulo era “o símbolo da sabedoria” e para os Egípcios o emblema da divindade (4)

Posto isto, sete letras dentro dum triângulo de vértice para cima, sugere-nos a sua progenitura masculina. No século XV, praticamente era só esta que contava. O nº 7 também sugere criação divina. Portanto, estas letras devem dizer-nos quais as suas origens, como foi criado por Deus por intermédio da sua progenitura masculina.

Quanto às nove letras na horizontal, vem-nos à ideia que se trata do seu nome terreno. O nº 9 é o número de meses duma gravidez. Portanto, o sete é criação divina, o nove, criação terrena.

Assim, os 3 SS do vértice podem não ser iniciais de palavras, mas uma espécie de mensagem ou revelação. Existirá algum significado oculto nos SS?

No Alto Minho, não sei se noutras partes, os SS não são letras, são símbolos. Símbolos de quê? De união, de vida, de fertilidade conjugal. Usam-se nos desenhos de peças em ouro, mesmo antes da nacionalidade. E ainda hoje se compõem.


(Brincos actuais com SS, bambolina e formato de Vénus)


O ouro, usado outrora pelos chefes ibéricos como símbolo de poder, vem das entranhas da terra ou do leito dos rios e ainda hoje se utiliza como louvor aos deuses. Tem a cor da luz e do sol que dá a vida. Segundo o especialista em ouro Manuel Freitas, os SS simbolizam a estilização de patos a voar.

E são:

Símbolo da união e da fertilidade conjugal, ao qual se junta, por vezes, a noção de força vital, pelo facto do macho e fêmea nadarem sempre em conjunto. O aparecimento sazonal destas aves migratórias, que surgiam no mesmo local e na mesma altura, sempre despertou um certo mistério e possivelmente por isso aparecem de forma bem explícita em antigas arrecadas na vizinha Galiza e nas nossas, em filigranados, forma estilizada de representar os patos a voar.

A mais antiga representação de SS encontrada é uma conta dum colar do tempo Suevo-visigótico. Hoje pertence à Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira.



Conta de brinco ou colar suevo-visigótica com SS (catálogo da exposição do ouro, Museu de Arqueologia, Lisboa, 2007)


Para ir para a Gronelândia, Arquipélago dos Açores, Madeira... Cristóvão Colon teria de contactar com outros marinheiros e muitos deles eram de Viana. Ora, na sigla de Colon, vemos três SSS. E ao lado de cada um deles vemos dois pontos, um de cada lado. Em mais letra alguma, quer do triângulo quer do rectângulo, nós vemos os dois pontos. Para mim, significa igualdade de progenitura.

No meio desses SS, está a letra A. No centro. No coração do triângulo. Todas as outras letras vão dar a esse A. Para mim, significa que tanto de pai como de mãe, Colon descende igualmente de alguém com o nome A. Ora, como na época se dizia Anrique em vez de Henrique, presumo que ele, tanto de pai como de mãe, descenderia do Infante D. “Anrique”.

Mas esse “A” também pode significar outra família, dado que estão lá 3 SS. Como o filho de Colon, Fernando, nos diz que seu pai tinha “sangue real de Jerusalém”, procurei entre as famílias judaicas portuguesas quem teria sangue real. Encontrei a família Abravanel, descendentes do rei David. Palavras de Hernando (5): “sendo os seus antepassados de sangue real de Jerusalém, teve por melhor que seus pais fossem menos conhecidos”. “Fossem menos conhecidos” sugere sangue judaico.

Os Abravaneis foram importantes na corte portuguesa. Um deles foi tesoureiro do rei D. Afonso V. Outro foi conselheiro económico do Duque de Bragança e por isso foi considerado membro da conjura do Duque, tendo ficado sem os bens. Mesmo assim, D. João II não o perseguiu como a outros e Abravanel foi absorvido pela corte de Isabel a Católica, onde prestou relevantes serviços. Depois, quando se tornou a situação difícil para os judeus em Castela, Abravanel fugiu… curiosamente para Nápoles, onde voltou a servir o rei desse estado.

Relativamente às três letras da base do triângulo, XMY, dizem que são Cristo, Maria e José (o Y corresponde ao J que não existia no séc. XV). Talvez signifiquem outra coisa. O certo é que essas três letras continuaram a ser usadas em documentos religiosos. A vidente Lúcia, quando redigiu a terceira parte do Segredo de Fátima, em 1944, começou o texto por J.M.J. E fazia o mesmo nas suas cartas.

Mas se, na sigla de Colon, significarem uma família, as letras não estão dispostas na ordem certa. Uma família compõe-se por pai, mãe e filho. Reparem que está dessa forma, se forem lidas ao contrário, como fazem os judeus. Lidas da esquerda para a direita, como sempre fazemos, temos filho, mãe e pai em último. Uma família absurda por começar pelo filho, mas é essa a versão cristã. Talvez Colon nos quisesse dizer que a sua família era parte cristã e parte judaica, pois no cristianismo o mais importante é Cristo, depois Maria e por fim vem S. José, ao contrário duma família tradicional.

Na Sagrada Família Cristã, o filho Jesus não é natural, é adoptivo, como todos sabem. Reparemos agora na sigla. O X de Cristo dirige-se obliquamente para A do centro, tal como na outra esquina o Y de José. Pode bem significar que seu pai era um filho adoptivo de A. Sua mãe, mesmo em linha recta com esse A, pode querer dizer que descende também de A, desta vez directamente.

Com esta análise, defendi no meu romance a tese que os pais de Colon seriam um filho adoptivo de Henrique (no caso o Infante D. Fernando). Quanto a sua mãe, seria a filha natural do Infante D. Henrique, pois, segundo li nos livros de Manuel Rosa, existe um documento nos Arquivos do Vaticano em que o Infante de Sagres faz um pedido ao Papa para a sua filha natural.(6)

Desta forma, como não tenho a certeza, transmiti sob a forma de romance que Cristóvão Colon, gerado em Cuba e nascido talvez no Mediterrâneo, ou em qualquer terra das suas margens, poderia ter tido como pai o filho adoptivo de Anrique, ou seja o Duque de Beja, e eventualmente gerado por uma mãe, filha natural de Anrique e de uma mulher da família Abravanel. Naturalmente que o Infante D. Fernando, futuro Duque de Beja, teria contacto com a ignorada filha do seu pai adoptivo e com os nobres Abravaneis (até tinham brasão) que circulavam pela corte.


(continua ...)

(1) Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, vol. XI, 1996, entrada Lucena, Vasco Fernandes

(2) Rui de Pina, Crónica do Senhor Rey D. Afonso V, cap. CXXXIV.

(3) Manuel Rodrigues de Freitas, “Ouro”, in Cadernos Vianenses, tomo 32, Viana do Castelo, Câmara Municipal, 2002: 186.

(4) Fina d'Armada, O Segredo de Fátima e Nostradamus, Ésquilo, 2004: 50.

(5) 1º capítulo de Historie del S. D. Fernando Colon, cit. por Manuel Rosa, “O Mistério Colombo Revelado”, Ésquilo, 2006: 476.

(6) “O Rev. Dr. Maurício dos Santos viu um verbeto do Cardeal Garampi que refere o pedido do Infante ao Papa a favor de sua filha natural” - Manuel Rosa, Colombo Português, Ésquilo, 2009: 305.


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