APRECIAÇÃO CRÍTICA AO LIVRO
PORTUGAL AND THE EUROPEAN DISCOVERY OF AMERICA
Christopher Columbus and the Portuguese
(de Alfredo Pinheiro Marques, Ed. INCM 1992)
A apreciação crítica efectuada centra-se exclusivamente sobre o conteúdo expresso no livro, nomeadamente as suas próprias contradições, interpretações dúbias, extrapolações desadequadas, inconformidades com outros factos comprovados ou registados, etc., não se procurando, em nenhum momento, contrapor a tese portuguesa, nem invocar, a despropósito, dados ou factos não mencionados no livro.
(Em itálico figuram os extractos do texto do livro, traduzidos do inglês pelo autor desta apreciação, com preocupações de fidelidade e integridade)
(Os comentários do autor desta apreciação vão precedidos do sinal +)
Autor da apreciação: Carlos Calado
Parte 1
(Prefácio)
pág. 2 - Por estranho que pareça, dado que a questão de Colombo é tão importante, tão controversa e tão óbvia e estreitamente relacionada com Portugal, o facto é que até ao momento ela não mereceu atenção especial dos historiadores portugueses.
+ Mas, o Autor, apesar de reconhecer que a questão Colombo não mereceu atenção dos historiadores portugueses, refere, mais adiante, a existência de vários estudos sobre Colombo e as suas relações com Portugal. Só que, na perspectiva do Autor, esses estudos não podem ser tratados como autênticos trabalhos históricos ou considerados representativos da historiografia portuguesa, pelo facto de não terem sido efectuados por historiadores profissionais.
pág. 2 – A lacuna é verdadeiramente estranha, porque é inegável que ninguém deveria estar mais interessado em tal trabalho que os próprios portugueses.
+ É aos historiadores profissionais portugueses que compete esclarecer porque não se lançam a esse trabalho, preferindo, em geral, atacar os pesquisadores que o fazem apesar das suas limitações e dificuldades, e utilizando sempre à priori o argumento de que já está provado que Colombo era italiano.
(Introdução – A natureza pioneira dos descobrimentos portugueses e a sua influência no projecto de Colombo)
pág. 10 – Tão importante foi a educação de Colombo em Portugal que o único idioma que ele falava e escrevia era uma mistura na qual o Português predominava sobre o seu dialecto genovês nativo e algum castelhano que ele aprendeu depois.
+ Parte desta afirmação é contrariada pelos manuscritos de CC, onde, de facto, abundam as palavras portuguesas ou aportuguesadas para castelhano, mas não há palavras que se possam considerar genovesas.
pág. 11 – Quando a sua proposta para descobrir as terras da Ásia navegando na direcção Poente foi rejeitada em Portugal, Colombo foi para Castela (onde ele era inicialmente referido como sendo um ‘estrangeiro’ ou pensava-se que fosse um ‘português’)
+ É interessante comparar esta afirmação final, de que em Castela se pensava que Colombo fosse português, com uma frase do Autor um pouco antes (Cf. pág. 10:
«Mas a verdade é que a história não é feita com impressões não provadas nem com especulações esotéricas, mas com factos e documentos – tal como eles estão disponíveis, sejam bastantes ou sejam escassos.»).
+ Neste caso, perante a única nacionalidade atribuída a CC em Castela durante a sua vida, quando o tesoureiro dos Reis Católicos o registou, documentalmente, como “el portugués”, o Autor concluiu que «se pensava» que era português.
pág. 11 - Colombo acabou por deparar, não com a Ásia que procurava, mas com um novo continente que não sabia que existia e o qual confundiu com o princípio da terra que buscava. Mesmo depois de novas viagens ele continuou, teimosamente, a chamar Ásia a essas terras e Índios aos seus habitantes. É difícil dizer hoje se este teimoso equívoco era real ou fingido, mas parece mais provável a segunda hipótese, na perspectiva de que Colombo estava, desta forma, a salvaguardar os títulos e benesses que os monarcas espanhóis lhe tinham prometido para descobrir o caminho marítimo para a Índia.
+ Novamente o Autor contraria as apregoadas normas de fazer história apenas baseado em factos e documentos, ao concluir que CC fingia que tinha chegado à Ásia de forma a assegurar que receberia os títulos e benesses prometidos pelos Reis Católicos. Esses títulos e benesses constam das “Capitulaciones de Santa Fé de Granada” outorgadas em 17 de Abril de 1492 e nesse documento os Reis espanhóis prometem-lhos «como compensação do que descobriu no Mar Oceano e da viajem que agora irá fazer por esse mar».
Primeiramente, os Reis Católicos «fazem, desde agora ao dito Don Cristóbal Colón, seu Almirante em todas aquelas ilhas e terras firmes que descobrir ou conquistar no dito Mar Oceano», depois «fazem ao dito Don Cristóbal Colón, seu Vice-Rei e Governador Geral em todas as ditas terras firmes e ilhas que, como se disse, ele descobrir ou conquistar no dito Mar Oceano», em seguida «atribuem-lhe a décima parte dos lucros sobre as mercadorias, especiarias, pedras preciosas, ouro e prata que se comprarem, trocarem, acharem ou obtiverem dentro dos limites do dito Almirantado», terminando com a «concessão da faculdade em participar com a oitava parte nas despesas dos navios que se armarem para essas ilhas e terras, com a consequente contrapartida de receber a oitava parte dos respectivos proventos» não havendo, em todo o documento, uma única referência à Ásia nem a caminho marítimo para a Índia.
CC teria, portanto, direito aos títulos e benesses quaisquer que fossem as terras e ilhas descobertas(1). Se teimou em chamar-lhes Índias, enganando os Reis espanhóis, foi certamente por outros motivos.
(1) Cf. González, Rodrigo Cota - "Colón, Pontevedra, Caminha", ed. PMMNexc, 2008
E a resposta poderá estar logo a seguir no texto do Autor (ainda na pág. 11:
«Colombo empreendeu outras três viagens antes da autorização ser definitivamente retirada. Ele nunca cessou de insistir que a nova terra era a Ásia e foi aumentando o seu descrédito à medida que se tornava mais clara a evidência do seu falhanço – acima de tudo pela razão que tornou esse falhanço ainda mais doloroso para os espanhóis: persistindo na sua rota sudeste contornando África, os portugueses finalmente venceram a corrida e atingiram a Índia (Vasco da Gama, 1498) – a verdadeira Índia que todos tinham procurado tão arduamente»).
Carlos Calado
Continua...