sábado, novembro 15, 2008

Não é como o pintam

Não é apenas em torno das suas origens, da sua nacionalidade, dos seus conhecimentos ou da localização dos seus restos mortais que se discute um dos mais mediáticos personagens da História.
Existem vários retratos que representam Don Cristóbal Colón, mas não há certezas que algum deles corresponda à verdadeira fisionomia do Descobridor das Américas. Face às descrições escritas do seu aspecto, talvez os mais fidedignos sejam o retrato pintado por Pedro Berruguete, a imagem do Almirante no quadro “Virgem dos navegantes” de Alejo Fernandez, que representa o navegador em idade mais avançada ou o retrato anónimo existente na Biblioteca Nacional, em Madrid, representando o navegador na força da vida.
Mas o retrato que mais nos habituámos a ver, quer nos livros da História, quer em vários artigos ao longo das décadas, foi pintado em 1519 pelo reputado italiano Sebastiano del Piombo e apresenta (em latim) a seguinte inscrição “Este é o retrato de Colombo, marinheiro lígure, o primeiro homem a penetrar nos antípodas”.

Esta pintura foi doada por um industrial ao Metropolitan Museum de Nova Iorque em 1900, e mostra um homem de meia idade, gordo e carrancudo, com lábios grossos e nariz achatado. Nada parecido com a imagem que as descrições escritas nos sugerem.
A mim, sempre me pareceu que era a imagem tipo de um ferreiro genovês. (sem olhar para as mãos)
Tendo assistido à emissão do documentário “A última viagem de Colombo” emitido há algumas semanas pelo canal História, voltei a reler algumas passagens do livro homónimo, de Martin Dugard, onde vamos sempre descobrindo novas incongruências da historieta que nos impingiram.
Vejam só o que consta na pág. 298, a propósito do quadro:
«Até os admiradores de Colombo contribuíram para a distorção da sua imagem….
… Piombo tinha apenas vinte e um anos quando Colombo morreu. Nunca tinha ido a Espanha, quanto mais posto a vista em cima do Almirante, e este nunca mandara pintar ou desenhar o seu retrato enquanto foi vivo. A carreira de Piombo, no entanto, estava em ascensão em 1519, trabalhava em Roma e era um amigo chegado de Miguel Ângelo. O mundo aceitou a pintura como a verdadeira imagem de Colombo e não havia razão alguma para que assim não fosse.
Os historiadores de arte viriam a descobrir mais tarde que a inscrição não fazia parte da pintura original, mas que tinha sido acrescentada anos mais tarde por uma mão desconhecida, sugerindo ainda que o quadro não teria sido feito em 1519, mas sim quinze anos mais tarde. Mais chocante ainda, a personagem era peremptoriamente identificada com um clérigo italiano»

Incorrigíveis, estes falsários! E ainda há quem continue a acreditar, hoje em dia, que não se passou nada de anormal para sustentar o Colombo ytaliano.

Carlos Calado

domingo, novembro 02, 2008

Como Camões Enaltece Colon

Há muitos "peritos" que atacam a teoria do Cristóvão Colon Português usando os escritos de Rui de Pina e de Luis de Camões.
Tal como é conhecido, Rui de Pina disse Colonbo ytaliano o que trai a verdade conhecida. Pois, como explicou Manuel Rosa, nesses dias o Almirante era bem conhecido como Colon e nunca como Colombo. Isto fica evidente nos documentos de Castela como na carta de D. João II de 1488 exposta no livro O Mistério Colombo Revelado em que o nome escrito por D. João II não é Colombo nenhum.

O outro argumento que diz que Camões nunca exaltou Colon como um Português cai por terra no Canto Décimo dos Lusíadas. Após descrever todas as partes do Oriente que os Portugueses nevegavam Camões vira-se para a descoberta do Ocidente:

Eis aqui as novas partes do Oriente,
Que vós outros agora ao mundo dais,
Abrindo a porta ao vasto mar patente,
Que com tao forte peito navegais.
Mas he tambem razão, que no Ponente
D'hum Lusitano hum feito inda vejais,
Que de seu Rei mostrando-se agravado,
Caminho ha-de fazer nunca cuidado.

Esse Lusitano agravado era Cristóvão Colon que fugiu para Castela dizendo que estava agravado com D. João II:
"Por lo cual dicho monarca [D. João II], aconsejado del doctor Calzadilla, de quien mucho se fiaba, resolvió mandar una carabela secretamente, la cual intentase lo que el Almirante le había ofrecido... lo cual habiendo llegado a noticia del Almirante, y siéndole ya muerta su mujer, tomó tanto odio a aquella ciudad y nación, que acordó irse a Castilla con un niño que le dejó su mujer, llamado Diego Colón, que después de la muerte de su padre le sucedió en su estado." História del Almirante, Capítulo XI -Cómo el Almirante se indispuso con el Rey de Portugal con motivo del descubrimiento que le ofreció de las Indias.

Segundo Camões o caminho feito para o Poente foi por um Lusitano que se mostrou (ou fez a parte) estar agravado com o seu Rei D. João II.
Tudo bate certinho com a história de Cristóvão Colon ser um Lusitano.

Que mais provas são preciso?

Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes leões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolatras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a peixes, ao profundo.

Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos àsperos mandados,
Sem dar resposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco: e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.

Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida....
-Os Lusíadas, Canto Décimo.