sexta-feira, julho 24, 2009

Comentários de Leitores sobre Colombo Português-Novas Revelações

Muito obrigado pela sua "luta", pela sua dedicação e amor à nossa nação!! É devido à sua postura que as palavras de um antigo poeta fazem todo o sentido: "Portugal é um acto de vontade!" Bem haja.
-- P. Pais

Espantoso trabalho! Tenho recomendado – e oferecido – exemplares do seu “Novas Revelações”. Muito obrigado por tudo.

-- P. F. Marcos


Parabéns pelo novo livro "Colombo Português" o qual estou a ler com sofreguidão tal como fiz com "O Mistério de Colombo Revelado".
Penso que, neste momento, para lá daquele tipo de historiadores portugueses que se limita a citar todos os trabalhos anteriores, perpetuando os erros e preconceitos enraizados e a quem nunca ocorreu formular algumas perguntas simples mas disruptivas, apenas autores anglo-saxónicos( leia-se americanos ) com a sua perdilecção disneyana pela temática "poor boy/rich girl/happy end", e o poderoso lobby ítalo-americano aceitam a história do cardador de lãs analfabeto que miraculosamente, em meia dúzia de anos, se torna mestre numa série de ciências diferentes, priva com o Rei mais secretivo da época e casa com uma fidalga. Se isto não é Hollywood!...

Desejo-lhe, desde já as maiores felicidades, e que a sorte ou a Providência coloquem no seu caminho aquela prova conclusiva e indesmentível por que todos ansiamos, para que Colon deixe de ser "para sempre confundido" e nós consigamos saír da "floresta de asneiras"!
-- A. Ramires


Acabo de ler o livro de V. Exa. que é a todos os títulos uma obra de Mestre intitulada Cólon Português. Lisboa, ed. Esquilo, 2009.

- M. A. Norton

domingo, julho 19, 2009

O Franciscanismo de Colon - parte 2

Palestra do investigador Carlos Paiva Neves na Conferência de 23 Maio 2009. CUBA - Alentejo

Parte 2

3. A presença Templária e da Ordem Terceira de S. Francisco na vila de Pavia

Desde muito cedo, o número crescente de candidatos à Ordem dos frades Menores ultrapassou a capacidade de acolhimento dos eremitérios e conventos. Essa situação levou à criação de um instituto filiado na Ordem dos Frades Menores. Os seus membros viviam um estatuto de vida espiritual franciscana adaptado às condições do mundo. Era a Ordem Terceira Secular, a que pertenceram muitos reis, nobres e gente do povo. Em Portugal, “sabemos que o rei D. Sancho II foi terceiro franciscano secular. Muitos dos membros da Ordem Terceira acabavam por professar num eremitério ou convento, dando origem à Ordem Terceira Regular. Não é fácil datar a entrada e oficialização da Ordem Terceira Regular em Portugal. Sabemos, por um documento pontifício, que em 1439, Frei João da Ribeira era o seu ministro provincial. A intelectualização da Ordem Franciscana e a aceitação do ensino, como resposta à necessidade de formação dos seus membros e como instrumento de evangelização, foram duas razões que levaram os Frades Menores, sem abandonarem os eremitérios rurais, a construírem conventos nos meios urbanos, que os aproximaram das populações. Na província da Piedade era tradição o ensino do latim, filosofia e gramática.” (16) O território de Pavia foi povoado desde épocas pré-históricas, conforme o comprovam os numerosos monumentos megalíticos existentes na área. As origens do agregado populacional de Pavia, o mais antigo do concelho de Mora, remontam, segundo a tradição, a um núcleo de imigrantes italianos, chefiados por Roberto de Pavia. Por veneração e recordação da sua terra natal, este núcleo terá dado à vila o nome de Pavia. Fixados a instâncias de D. Afonso III ou de D. Dinis, tendo este último monarca concedido a primeira carta foral em 1287. Desta data até 16 de Março de 1486, altura em que foi cedida por D. João II ao Conde de Borba, D. Vasco Coutinho, comendador de Almourol (Ordem de Cristo), alcaide-mor de Santarém e capitão e herói de Arzila, com alcaidaria e direitos sucessórios, a vila pertenceu, por doação, a vários nobres e à Coroa. A Torre do Relógio está situada na frente sul da Praça, encostada à velha habitação de dois pisos, construída com certo carácter e de frente iluminada por janelas de peito graníticas, que a tradição afirma ter sido estau dos freires de Avis.

Torre do Relógio

A Igreja Matriz de S. Paulo, considerado monumento nacional, foi edificada dentro do velho e destruído muramento dos alvores de quinhentos, que protegeu comummente o paço fortificado dos condes de Redondo. Nenhum documento histórico conhecido se refere às suas origens e fundamentos. Sucedeu sem dúvida à primeira igreja curada de Santa Maria, que já tinha existência paroquial no reinado de D. Dinis, em 1320, data da doação das igrejas da vila à Ordem de Avis. Estava anexa a S. Salvador de Arraiolos e note-se ainda que na freguesia de Cabeção, existe uma outra capela com a designação S. Salvador do Mundo.










Igreja de S. Paulo











Sol e Lua no interior da Igreja de S. Pau
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Cruz Orbicular e Cruz Templária na Igreja de S. Paulo


A ermida de S. Sebastião, fundação do padroado dos condes de Redondo, perdeu o seu nome de origem a partir de 1763, com a instalação, com sede anexa, da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, santo seu patronímico da actualidade. Nas pesquisas efectuadas em 2007, na freguesia de Pavia, foi identificado um objecto que atesta a presença franciscana nesse local. Trata-se de uma chancela em ferro fundido com a simbologia franciscana, e as seguintes inscrições: “VILA DE PAVIA”, “A.V. ORD.”, referindo-se à Ordem Terceira de S. Francisco. Os leigos não letrados, tal como Cristóvão Colon também se definiu, exerceram a sua actividade em Pavia, importa no entanto continuar esta investigação na busca da actividade franciscana anterior a 1763, porque conforme atesta a tradição, Pavia também foi local de recolhimento dos frades de Avis.

Chancela da Ordem Terceira de S. Francisco (séc. XVIII ou XIX)

Segundo o padre Henrique Rema, nos inventários feitos em 1834, identificou uns tantos frades de Pavia, Frei José de Pavia, então residente no convento de S. António de Évora, Frei Álvaro da Mãe dos Homens Pavia, que em 1827 estava no convento de Alcácer do Sal e em 1829/30, era o guardião do convento de Beja (citando BNL, cx 69, nº 3 (3/35 e 3/37) e Torre do Tombo, Província Algarve, Maço 88), e ainda Frei João de Pavia, estudante corista no convento de S. António de Faro, e finalmente, Frei Francisco de Mora, também corista no convento de Fronteira. Nas entrevistas efectuadas a investigadores do franciscanismo em Portugal, ao padre David do convento do Varatojo, professor Joaquim Chorão Lavajo, do Instituto Superior de Teologia de Évora, e ao padre Henrique Rema da Ordem de Frades Menores de Lisboa, todos confirmam a actividade da Ordem Terceira na freguesia de Pavia, desconhecendo a existência de um suposto convento.

(16) Joaquim Chorão Lavajo, Ordem dos frades menores no Alentejo e no Algarve


Conclusões

O franciscanismo está presente na matriz esotérica e mística da sociedade portuguesa, e foi preponderante no período da expansão e dos descobrimentos. A sua influência gerou inúmeras práticas religiosas e grande devoção, patentes na dinastia de Avis. Foi neste profundo ambiente messiânico que nasceu Cristóvão Colon, também ele bastante influenciado pelo franciscanismo, com cariz pronunciado em períodos conhecidos da sua vida, atestados pela manifestação de uma alargada cultura religiosa, sobre o Antigo e o Novo Testamentos, mas com uma tendência joaquimita fundamentada no culto do Espírito Santo, conforme a análise que decorre à sua correspondência. Nesta linha de raciocínio são identificados aspectos intrínsecos ao pensamento de Joaquim da Fiori, próprios de uma corrente, designada por franciscanismo secular, membros da Ordem Terceira de S. Francisco, que se reconhece a sua actividade em Portugal, a partir de 1439, sendo o Frei João da Ribeira o seu ministro provincial, como é atestado por documento pontifício. Porém desconhece-se efectivamente a entrada e oficialização da Ordem Terceira em Portugal. De acordo com os factos e análise aos conteúdos das cartas de Cristóvão Colon, tudo evidencia que o navegador teve contacto com os frades franciscanos desde a sua infância, e que teriam sido seus preceptores e influentes na sua formação. A ciência medieval foi muito protagonizada pelos franciscanos, e destes destacam-se como influentes no pensamento religioso de Cristóvão Colon, Joaquin da Fiori já referido, Pierre d’Ailly, Gerson e os seus grandes amigos, frades João de Marchena e Gaspar de Gorricio. São várias as fontes franciscanas que apontam Cristóvão Colon como membro da Ordem Terceira de S. Francisco, ele próprio se definiu como “leigo não letrado”, característica dos membros seculares pertencentes aquela Ordem. As referências dadas por seu filho Fernando Colon e por Bartolomé de Las Casas, quanto a ter iniciado os seus estudos em Pavia, não devem ser completamente ignoradas, sobretudo numa linha de investigação orientada para a Pavia de Portugal. A busca de evidências franciscanas na Pavia portuguesa revelou-se positiva, apesar de não encontrarmos qualquer convento ou mosteiro que aí tivesse existido. Porém, constata-se a existência de testemunhos patrimoniais relativos à presença templária, e referências a actividade dos frades de Avis, da Ordem Terceira de S. Francisco e de frades franciscanos. Sem qualquer relação de causalidade, não se pode ainda aferir sobre a relação que Cristóvão Colon teve com a Pavia de Portugal, contudo parece-nos pertinente continuar o esforço de investigação para concluir acerca desta tese. É nesta senda que iremos continuar. A intuição e o raciocínio constituem a luz da investigação histórica.

sábado, julho 18, 2009

O FRANCISCANISMO DE CRISTÓVÃO COLON

Palestra pelo investigador Carlos Paiva Neves,

integrada na Conferência de 23 de Maio 2009. CUBA - Alentejo

1. A Influência do Franciscanismo na Corte de Portugal durante o século XV
O ambiente messiânico vivido em pleno século XV é enquadrado numa grande influência franciscana, bem presente desde o reinado de D. João I, até ao reinado de João II. A espiritualidade e a cultura intelectual são protagonizadas por frades franciscanos, constituem-se mesmo como confessores do rei. “Frei Fernando de Astorga, frei Afonso de Alprão e frei João Xira foram confessores de D. João I; frei Vasco Pereira, de D. Duarte; frei Gil Lobo de Tavira, primeiro-ministro da província de Portugal, também foi confessor de D. Duarte, do regente D. Pedro e de Afonso V. No âmbito literário identifica-se também que a actividade de pregação foi cometida a frades menores, a maior parte deles com graus universitários; que o infante D. Fernando tencionava legar a maior parte da sua biblioteca ao mosteiro de S. Francisco de Leiria; que frei André do Prado fez do infante D. Henrique personagem dialogante no seu Horologium Fidei 2.” (1)
O rei D. Afonso V mandou edificar a partir de 1470 o convento do Varatojo, perto de Torres Vedras, tendo os primeiros frades franciscanos dado entrada quatro anos depois. Este rei tinha uma rara devoção ao S. António, também ele franciscano, Ordem a que aderiu na senda dos santos mártires de Marrocos. “O amor com que tratou sempre a nossa religião e em especial a família dos Observantes, nem a língua o pode dizer, nem a pena por mais que se remontasse nos voos da elegância o poderia declarar (Frei Manuel da Esperança). D. Afonso V deixou ainda escrito no seu testamento: tanto que eu falecer trigosamente se digam mil missas rezadas com seus responsos e dem desmolla quinze reis por cada missa com seu responso e todas seja de requiem as quaes se mandem dizer pellos moesteiros da observância de San Francisco deste regno”. (2)
A espiritualidade e religiosidade de D. João II está também marcada nos seus lugares franciscanos, de promessas e novenas em mosteiros da sua especial predilecção, como “Nossa Senhora do Espinheiro em Évora, Santa Maria das Virtudes, perto de Azambuja, S. António da Castanheira em Vila Franca de Xira, Nossa Senhora da Pena em Sintra, S. Domingos da Queimada em Armamar e a casa franciscana do Varatojo. Foram em grande número os mosteiros e capelas que dele receberam especiais doações: e em quaes quer casas que estivesse tinha oratório fechado, em que todas las noites depois de despejado, e despedido se recolhia com muyta deuaçam a rezar os sete Psalmos esse encomendar a Deos.” (3)
Após o regresso de Cristóvão Cólon da primeira viagem, decorreu o misterioso encontro com D. João II em Vale Paraíso, perto de Aveiras de Cima, e tornar-se-ia interessante analisar o conteúdo da conversação estabelecida neste encontro, “embora seja difícil definir o seu exacto significado, que D. João II se refugia em Torres Vedras, em cuja região está desde o final de Março até finais de Setembro.” (4)
Este refúgio está certamente relacionado com o convento do Varatojo, de grande devoção de seu pai.
As relações que os franciscanos mantiveram com a dinastia de Avis favoreceram, além de seu avanço, sua influência em processos importantes da história de Portugal. Pode-se citar como exemplo “o facto de que estes frades ligados à observância, aliaram-se à empresa marítima empreendida pela nova dinastia no século XV e início do XVI.” (5)
Nas viagens empreendedoras concretizadas pela Ordem de Cristo, faziam parte os frades franciscanos que “levaram a palavra de Cristo, pelos conselhos evangélicos, concretizando assim um dos ideais portugueses ao partir: levar a Boa Nova a todas as gentes e tornar Jesus Cristo conhecido em todos os locais!” (6)
O espírito de S. Francisco foi objecto de uma devoção amplamente difundida e enraizada na Corte de Portugal, bem patente a partir dos finais do século XIV até aos primórdios do século XVI.

(1) João Dionísio, «Literatura franciscana no Leal Conselheiro, de D. Duarte» Lusitânia Sacra, tomo 13-14, 2001-2002
(2) Manuela Mendonça, O Franciscanismo em Portugal – Séc. XIV-XVI, citando António Caetano de Sousa.
(3) Itinerários de El-Rei D. João II – Joaquim Veríssimo Serrão/Academia Portuguesa da História

(4) D. João II – Reis de Portugal – Luís Adão da Fonseca – Círculo de Leitores
(5) Os Franciscanos Observantes Portugueses e a representação social cristão como equilíbrio do conflito entre o poder
temporal e poder espiritual (1385-1450) – Marcelo Santiago Berriel
(6) O Franciscanismo em Portugal – Séc. XIII-XVI - Manuela Mendonça



2. A Influência Franciscana na formação de Cristóvão Colon
Cristóvão Colon nasce numa época impregnada pelo culto da palavra de Cristo e por um amplo movimento de evangelização. A formação do navegador, com profunda influência franciscana denota, através da análise à documentação de sua autoria, que é iniciada de muito cedo, num ambiente franciscano recôndito, que poderia não passar necessariamente por um convento ou mosteiro. O cenário pode configurar uma formação tutora muito reservada, a cargo de frades franciscanos que garantissem e salvaguardassem a verdadeira identidade de Cristóvão Colon.
Segundo Alain Milhou, o frade teólogo, considerava o franciscano secular (membro da Ordem Terceira) um “leigo não letrado”, sendo um homem que não tinha estudado teologia nem direito canónico e devia obedecer cegamente aos seus mentores eclesiásticos, que detinham a ciência, o divino e o humano. Mas existia outra corrente, que aceitava o não letrado para leccionar a cristandade, que era o caso dos franciscanos observantes, fiéis à mensagem de humildade de S. Francisco de Assis e fascinados pelo Espírito Santo. Dentro desta tipologia do secular “leigo não letrado”, pretendeu situar-se Cristóvão Colon, chegando mesmo a definir-se como “leigo não letrado”. Este seu posicionamento é ilustrado pelo saber empírico, em que insistiam especialmente, os franciscanos e os professores universitários nominalistas. (7)
Em alguns textos citados por Cristóvão Colon, o não letrado e ignorante, pode por revelação divina, graças ao espírito de inteligência conferido pelo Espírito Santo, ensinar os sábios. O Espírito Santo pode fazer de um humilde secular um eleito e porta-voz de Deus.
“É bem patente a importância do vocabulário afectivo, sensível e inclusive a experiência mística:
“Dios me abrió la voluntad, este fuego, esa lumbre”. Reconhece-se que nos planos teológico e filosófico tinha uns conhecimentos próprios da elite secular, cita com frequência, no seu Livro das Profecias, S. Agostinho, S. Tomás de Aquino e Nicolau de Lira, que muitos atribuem ao seu director espiritual, frade Gaspar Gorricio, mas que não pode constituir apenas uma compilação de versículos assinalados por Gorricio, pois Cristóvão Colon manifesta uma ampla cultura bíblica, de ambos os Testamentos, ao longo da sua vida. Cristóvão Colon tinha experiência religiosa.” (8)
Conhece-se por exemplo, a importância do Joaquimismo entre os menores nos séculos XII a XV, particularmente nos irmãos da Ordem Terceira. Joaquim da Fiori (m.1202) “exaltava os simples e idiotas, a quem Deus havia difundido seu espírito, preferindo-os aos sábios, elegendos para levar o evangelho às nações. Os menoritas também se interessavam muito mais pela ciência experimental, ou pelo menos pela observação, a qual se encontrava algo esterilizada na construção aristotélica, demasiado coerente.” (9)
A ciência medieval, a cosmografia, astrologia, geografia, medicina, alquimia, foram muito protagonizadas pelos franciscanos. Um dos maiores representantes do Ocamismo foi Pierre d’Ailly (m.1420), autor de uma das obras mais importantes da Idade Média, “Imago Mundi”, livro muito caro de Cristóvão Colon. Gerson (m. 1429), discípulo de Pierre d’Ailly, possivelmente lido por Cristóvão Colon, dado que o cita no Livro das Profecias, considerava que um iletrado podia aceder à beatitude, tanto como um perfeito conhecedor da tradição eclesiástica, e por isso se mostrou favorável a Joana D’Arc, quem como Cristóvão Colon, se enfrentou meio século mais tarde com sábios e doutores. “A consciência e cultura messiânica de Cristóvão Colon, inscrevem-se fundamentalmente na trajectória do franciscanismo joaquimita.” (10)
Em Portugal, o joaquimismo está intrínseco à “difusão do culto do Espírito Santo, aparentemente lançado com a rainha Santa Isabel, fundindo-se depois no sebastianismo e na crença no advento do Quinto Império bem patente na obra do Padre António Vieira”. (11)
Neste contexto é pertinente questionar se Cristóvão Colon pertenceu à Ordem Terceira de S. Francisco, e através dos contactos estabelecidos com o pesquisador franciscano padre Henrique Rema, da Ordem dos Frades Menores de Lisboa, foram identificadas várias fontes, que referem a ligação do navegador à dita Ordem, como por exemplo:”Dentro das suas fileiras aparecem reis, príncipes, Papas, cientistas, artistas, exploradores e apóstolos, como Dante, Giotto, Leonardo Da Vinci, Galileu, Cervantes, Cristóvão Colombo, Vasco da Gama, Vespúcio, Palestrina, Galvani, Volta, Perosi...”(12)
Outra fonte ainda: “Se entre os Terceiros de 400 não podemos com certeza incluir Cristóvão Colombo, porque a crítica histórica nega esta linda lenda, certo é que o grande navegador teve muitos contactos com os franciscanos” (13)
Como é referido pelo padre Henrique Rema, constata-se que o nome do navegador aparece em muita lista de Terceiros célebres.
O pintor e ensaísta Lima de Freitas, refere no seu texto, “A revolução Franciscana na Arte Ocidental”, que foram membros da Ordem Terceira de S. Francisco, “ao que se diz, Santa Isabel da Hungria, parece que também S. Luís de França, e certamente Dante, Cristóvão Colombo, Tomas Moore, todos os papas depois de Leão XIII, Santo Inácio de Loyola e muitos reis portugueses” (14)
Nesta fase torna-se pertinente questionar acerca do momento em que Cristóvão Colon tem os primeiros contactos com o franciscanismo, e surge então a questão de Pavia. Fernando Colon refere na biografia do navegador que “de tenra idade aprendeu as letras e estudou em Pavia o que lhe bastou para entender os cosmógrafos, a cuja lição foi muito aficionado. Bartolomé de Las Casas, escreve que “estudou em Pavia os primeiros rudimentos das letras, maioritariamente a gramática, e tornou-se perito na língua latina, e disto louva-o a dita História portuguesa.” Dada a deturpação histórica, todos foram induzidos para Pavia de Itália. Simon Wiesenthal, por sua vez, afirma que este facto é considerado por muitos investigadores como uma mentira ditada pelo embaraço, não existindo qualquer prova apoiando esta afirmação. Mas qual a razão que se refere Pavia como o local onde Cristóvão Cristóvão Colon inicia a sua aprendizagem? Manuel Silva Rosa evidencia este propósito para investigação, em “O Mistério Colombo Revelado”, sugerindo que existe outra Pavia, no concelho de Mora, distrito de Évora.
O mesmo autor refere ainda acerca da condição franciscana de Cristóvão Colon: “A ligar Colon às ordens religiosas estão os lugares que ele frequentou ou onde permaneceu enquanto esteve em Espanha e as pessoas com quem se relacionou, tais como o frade António de Marchena, e o seu muito amigo Gaspar Gorricio. Cristóvão Colon deixou Portugal e foi para o mosteiro franciscano de La Rábida, próximo de Huelva, que era um mosteiro irmão daquele que existe em Setúbal, chamado Arrábida…Las Casas e outros escreveram que Cristóvão Colon agia, nas suas práticas e no seu fervor religioso, como se fosse um membro de uma ordem religiosa.” (15)
Vamos seguidamente analisar o património histórico de Pavia, concelho de Mora, reforçando a emergência desta investigação.

(continua...)

(7) Fundadores do nominalismo, os franciscanos Duns Scoto (m.1308) e Guilherme Occam (m.1349); Princípio do Nominalismo: Os conceitos são realidades ou palavras?
(8) Alain Milhou, Cristóvão Colon “Modelo “idiota” que ensina os sábios”, 1992.
(9) Idem.
(10) Idem.

(11) Joaquin da Fiori: http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_de_Fiore
(12) T. Lombardi, Storia del Francescanesimo, OFM, 1980, p. 418.
(13) Gemelli, Il Francescanesimo, 1947, p. 136.
(14) Franciscanismo em Portugal – Fundação Oriente 1996/2000.

(15) Manuel da Silva Rosa, O Mistério Colombo Revelado, 2007

sexta-feira, julho 03, 2009

Fina d'Armada - 2. O ÚLTIMO REBENTO DE HENRIQUE

Palestra integrada na Conferência de 23 Maio 2009, CUBA - Alentejo

2ª Parte - O ÚLTIMO REBENTO DE HENRIQUE

Relativamente às letras da base, na sigla de Colon parecem indicar o seu nome – Cristóvão Fernandes. Quanto ao Zarco, que muitos defendem, gostaria de não me meter nisso para já. Por um lado, não consegui até agora encontrar uma filha ou neta de Zarco que encaixasse na história. Por outro, Zarco era uma alcunha que significava “olhos claros, azuis ou verdes, quase brancos”. Essa era a cor dos olhos de Cristóvão Colon e do rei D. Manuel I. Além disso, Manuel Luciano da Silva defende que Zarco em grego significa Colon.

«Se consultarmos o dicionário judaico, verificamos que existem as palavras “Zakhar” que quer dizer “órgão masculino” e “Zarkor” que significa “projectar” ou “ejacular”. É por isso que “Zarkor” tem o mesmo significado que Colon em grego» (1)

Mas antes de voltarmos a estas 9 letras, lembremos que intérpretes dos livros de D. Tivisco dizem que Colon foi “o último rebento de Henrique”. Tem-se interpretado como descendente de Henrique, sobretudo através do seu filho adoptivo Infante D. Fernando. Mas se pensarmos bem, Colon nunca podia ter sido o último rebento de ninguém, porque teve irmãos mais novos, filhos e descendentes que chegaram ao nosso século. Então, se não era último rebento de sangue, é último rebento de quê?

Não tenho dúvidas que se trata de Henrique, o Navegador. Ora, em que qualidade Colon seria último? Os Descobrimentos foram iniciados por Henrique, mas Colon não foi o último descobridor. As Antilhas foram achadas em 1492 e, depois disso, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia e Pedro Álvares Cabral o Brasil. Sem falar em Timor, na Terra Nova, nos caminhos para a China e Japão... A única diferença é que Colombo descobriu no tempo dos reis católicos e D. João II e, as outras descobertas aconteceram no reinado dos reis católicos e D. Manuel I. Portanto, o que difere é D. João II e D. Manuel I.

Voltemos de novo às 9 letras na horizontal. Vemos lá Cristóvão Ferens mais o ponto e o traço que dizem significar Colon, ou seja, membro.

Curiosamente, o ponto e traço de Colon, no fim da assinatura, é parecido com o ponto e traço no fim da assinatura do Infante D. Henrique que assinava assim: IDA./ (Infante Dom Anrique).

Ora, segundo dizem, Cristóvão FERENS significa um membro que vai em nome de Cristo, ou aquele que transporta Cristo. O nome Cristóvão parece ter sido escolhido para significar, tal como o santo das viagens, o transporte difícil pela água salgada com uma mensagem cristã. O seu filho Hernando escreveu: “Se repararmos no apelido comum ou sobrenome de seus antepassados diremos que verdadeiramente era Colombo, o Pombo, enquanto era portador da graça do Espírito Santo para o novo mundo”. Pelo facto de Colon se considerar uma pomba do Espírito Santo, quem sabe se Colombo não foi uma alcunha que lhe puseram já na época, daí o nome que lhe deu Rui de Pina! Em Portugal, ainda hoje existem termos “columbófilos”.

Os pontos e traços das assinaturas de Colombo e de Anrique, significam que ambos eram membros. Se Cristovão FERENS significa os que vão por Cristo, então talvez Colombo fosse o último rebento da ideia original daqueles que iam descobrir tendo como objectivos o cristianismo do Espírito Santo e o espírito de descoberta. Neste sentido, Colon pode ter sido o último rebento da missão iniciada por Henrique em 1420. Por outras palavras, Cristóvão Colon pode ter sido o último templário. O último descobridor que encerrou a missão esotérica da Ordem de Cristo.

E então Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral não iam sobre as águas transportando a ideia de Cristo? Na verdade, não. Com D. Manuel I, Cristo passou a ser Jesus. A ideia que prevalecia era a conquista, a obtenção de tributos dos régulos africanos, uma cristianização à força, não era uma ideia templária. Segundo Zurara, o Infante D. Henrique alimentava já a intenção de chegar à Índia por mar, mas não era uma ideia de conquista e de guerra como D. Manuel entregava aos capitães nos seus regimentos.

Ora, dentro da perspectiva de levar uma mensagem templária, D. Henrique foi o primeiro, Colombo o último.

Escreveu ele: «Do novo céu e terra que dizia Nosso Senhor por São João no Apocalipse, depois de dito pela boca de Isaías, me fez mensageiro e me mostrou aquelas partes» (2)

Ele considerava-se o anunciado duma profecia.Temos então que esta ideia de “último rebento” nos leva a colocar Colombo em Tomar, terra que espalhou pelo mundo o culto do Espírito Santo. E por ser o último templário, teria de estar imbuído de secretismo da Ordem de Cristo. Teria de ser um alto senhor português.

Se fosse filho secreto do Infante D. Fernando, só podia ter aparecido à luz em Portugal, após 1470, quando seu pai morreu e, como não podia ser mais perfilhado, deixou de correr risco de vida. Nos seus textos, ele chegou a escrever que há 14 anos que tentava demover o rei para a descoberta das Índias antes de ir para Castela. Como foi em 1484, menos 14 anos dá 1470. Terá sido a partir de então que entrou nos segredos da Ordem de Cristo. E também nos segredos da Ordem de Santiago, dirigida após 1472 por D. João II, tendo-se tornado marido duma “comendadeira” dessa Ordem.

Convém relembrar que, como filho do Infante D. Fernando, seria 3º primo de Isabel a Católica, pois ambos tinham uns bisavós comuns – os reis D. João I e D. Filipa de Lencastre, que era ruiva como Colon e como a mãe da Católica.

Quanto ao facto de ele provir duma filha natural de Anrique, isso justificaria o secretismo do seu nascimento, durante mais de 500 anos. D. Henrique ainda hoje é um mito, como cavaleiro puro, que procurava o Santo Graal, e morreu virgem segundo Zurara.

Enfim, com Anrique ou sem Anrique, como “último rebento” dum projecto templário ou com sangue real de Jerusalém, a saga misteriosa de Cristóvão Colon continua.

(1) Manuel Luciano da Silva e Sílvia Jorge da Silva, Cristóvão Colon [Colombo] era Português, Quidnovi, 2006:123.

(2) Cit. por Manuel Rosa, O Mistério Colombo Revelado, Ésquilo, 2006: 531.



quinta-feira, julho 02, 2009

Fina d'Armada. A SIGLA DE 'COLOMBO'


A SIGLA DE 'COLOMBO' - “A” DE ANRIQUE E ÚLTIMO REBENTO


Palestra pela Historiadora Fina d'Armada, integrada na Conferência de 23 de Maio de 2009. CUBA - Alentejo


1ª Parte


Fina d’Armada, com o seu livro “O Segredo da Rainha Velha”


Gostaria de começar por felicitar a Vila de Cuba por manter viva a chama da nacionalidade portuguesa de Cristóvão Colon, mais conhecido por Colombo. Ao realizar estas conferências, mantém o assunto actual e dá relevo à sua terra.

No romance histórico “O Segredo da Rainha Velha”, desenvolvo, entre outras coisas, uma tese de Colombo português.

Apoiando-me nas entrelinhas da obra de Rui de Pina, “Crónica do Senhor Rei D. Afonso V”, e nos documentos da Torre do Tombo sobre a Infanta D. Beatriz, eu penso que Colombo pode ter sido gerado em Cuba, mas deve ter nascido noutro local. Tal como a rainha D. Leonor conseguiu impedir que o Papa legitimasse um filho ilegítimo do marido D. João II, também a poderosa D. Beatriz nunca permitiria o nascimento dum bastardo que herdasse bens seus. Na altura, ela ainda não tinha filhos.

Suponhamos, então, que o nascimento de Colon teve algo a ver com a fuga do Infante D. Fernando, em 1452, por causa desse incidente Duque de Beja. Talvez a sua amada grávida corresse risco de vida. Colon pode ter nascido no mar Mediterrâneo ou em Nápoles. Nessa cidade, reinava um tio do Infante, irmão de sua mãe, e não tinha herdeiros. D. Fernando queria que esse seu tio o adoptasse, para um dia ser rei de Nápoles, rejeitando a adopção feita pelo Infante D. Henrique. Esse Infante, o 2º homem mais importante do reino, fugiu de Portugal, sem prevenir o rei D. Afonso V, seu irmão, nem o pai adoptivo Infante D. Henrique, porque queria formar uma vida nova. Sozinho? Não creio. Como levou na sua escassa comitiva (com ele eram cinco) Vasco Fernandes de Lucena, um jurisconsulto diplomata que já participara 17 anos antes, em 1435, no concílio de Basileia (1), isso sugere que ele queria anular o seu casamento junto do Vaticano e começar nova vida em nova terra. Colon pode até ter vindo ao mundo no mar Mediterrâneo, dentro do barco do corsário Peroso, corsário italiano que bem podia ser genovês.

Os portugueses de Ceuta, que foram com uma armada atrás do Infante fugitivo, encontraram, segundo Rui de Pina, “uma galé e uma caravela [do Infante], ambas juntas, e a galé era de um Peroso, corsário italiano” (2)

Todavia, se Cristóvão Colon nasceu numa situação de fuga, isso não significa que ele não seja português e que não tenha mantido relações estreitas com os senhores de Cuba. É como naqueles casos em que uma mãe, que vive em determinada terra, vai ter um filho a uma maternidade que fica noutro local e depois há a dúvida de se saber se é natural da terra onde foi gerado ou onde acidentalmente veio a este mundo. A questão da nacionalidade pode não ser linear.


A SIGLA DE CRISTÓVÃO COLON

No entanto, hoje trago aqui uma interpretação da sigla de assinatura de Cristóvão Colon, que iniciei no “Segredo da Rainha Velha” e aqui desenvolvo.

Como se vê, as letras estão colocadas não ao acaso, mas com um aspecto gráfico. Assim, há sete letras dispostas em triângulo, com o vértice para cima, e nove letras na horizontal. Segundo Manuel Freitas: “O triângulo com o vértice para cima simbolizava o fogo e o sexo masculino; com o vértice para baixo, simbolizava a água e o sexo feminino e, pela sua semelhança com a púbis, está muito ligada a motivos de fertilidade (3)

Tal como os menhires, há uma forma anatómica nos triângulos – com o vértice para cima sugerem o membro masculino na pujança da fertilidade. Ora a esse membro dá-se o nome de Colon – apelido do navegador. Ou seja, um triângulo também é um Colon.

Para Pitágoras o triângulo era “o símbolo da sabedoria” e para os Egípcios o emblema da divindade (4)

Posto isto, sete letras dentro dum triângulo de vértice para cima, sugere-nos a sua progenitura masculina. No século XV, praticamente era só esta que contava. O nº 7 também sugere criação divina. Portanto, estas letras devem dizer-nos quais as suas origens, como foi criado por Deus por intermédio da sua progenitura masculina.

Quanto às nove letras na horizontal, vem-nos à ideia que se trata do seu nome terreno. O nº 9 é o número de meses duma gravidez. Portanto, o sete é criação divina, o nove, criação terrena.

Assim, os 3 SS do vértice podem não ser iniciais de palavras, mas uma espécie de mensagem ou revelação. Existirá algum significado oculto nos SS?

No Alto Minho, não sei se noutras partes, os SS não são letras, são símbolos. Símbolos de quê? De união, de vida, de fertilidade conjugal. Usam-se nos desenhos de peças em ouro, mesmo antes da nacionalidade. E ainda hoje se compõem.


(Brincos actuais com SS, bambolina e formato de Vénus)


O ouro, usado outrora pelos chefes ibéricos como símbolo de poder, vem das entranhas da terra ou do leito dos rios e ainda hoje se utiliza como louvor aos deuses. Tem a cor da luz e do sol que dá a vida. Segundo o especialista em ouro Manuel Freitas, os SS simbolizam a estilização de patos a voar.

E são:

Símbolo da união e da fertilidade conjugal, ao qual se junta, por vezes, a noção de força vital, pelo facto do macho e fêmea nadarem sempre em conjunto. O aparecimento sazonal destas aves migratórias, que surgiam no mesmo local e na mesma altura, sempre despertou um certo mistério e possivelmente por isso aparecem de forma bem explícita em antigas arrecadas na vizinha Galiza e nas nossas, em filigranados, forma estilizada de representar os patos a voar.

A mais antiga representação de SS encontrada é uma conta dum colar do tempo Suevo-visigótico. Hoje pertence à Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira.



Conta de brinco ou colar suevo-visigótica com SS (catálogo da exposição do ouro, Museu de Arqueologia, Lisboa, 2007)


Para ir para a Gronelândia, Arquipélago dos Açores, Madeira... Cristóvão Colon teria de contactar com outros marinheiros e muitos deles eram de Viana. Ora, na sigla de Colon, vemos três SSS. E ao lado de cada um deles vemos dois pontos, um de cada lado. Em mais letra alguma, quer do triângulo quer do rectângulo, nós vemos os dois pontos. Para mim, significa igualdade de progenitura.

No meio desses SS, está a letra A. No centro. No coração do triângulo. Todas as outras letras vão dar a esse A. Para mim, significa que tanto de pai como de mãe, Colon descende igualmente de alguém com o nome A. Ora, como na época se dizia Anrique em vez de Henrique, presumo que ele, tanto de pai como de mãe, descenderia do Infante D. “Anrique”.

Mas esse “A” também pode significar outra família, dado que estão lá 3 SS. Como o filho de Colon, Fernando, nos diz que seu pai tinha “sangue real de Jerusalém”, procurei entre as famílias judaicas portuguesas quem teria sangue real. Encontrei a família Abravanel, descendentes do rei David. Palavras de Hernando (5): “sendo os seus antepassados de sangue real de Jerusalém, teve por melhor que seus pais fossem menos conhecidos”. “Fossem menos conhecidos” sugere sangue judaico.

Os Abravaneis foram importantes na corte portuguesa. Um deles foi tesoureiro do rei D. Afonso V. Outro foi conselheiro económico do Duque de Bragança e por isso foi considerado membro da conjura do Duque, tendo ficado sem os bens. Mesmo assim, D. João II não o perseguiu como a outros e Abravanel foi absorvido pela corte de Isabel a Católica, onde prestou relevantes serviços. Depois, quando se tornou a situação difícil para os judeus em Castela, Abravanel fugiu… curiosamente para Nápoles, onde voltou a servir o rei desse estado.

Relativamente às três letras da base do triângulo, XMY, dizem que são Cristo, Maria e José (o Y corresponde ao J que não existia no séc. XV). Talvez signifiquem outra coisa. O certo é que essas três letras continuaram a ser usadas em documentos religiosos. A vidente Lúcia, quando redigiu a terceira parte do Segredo de Fátima, em 1944, começou o texto por J.M.J. E fazia o mesmo nas suas cartas.

Mas se, na sigla de Colon, significarem uma família, as letras não estão dispostas na ordem certa. Uma família compõe-se por pai, mãe e filho. Reparem que está dessa forma, se forem lidas ao contrário, como fazem os judeus. Lidas da esquerda para a direita, como sempre fazemos, temos filho, mãe e pai em último. Uma família absurda por começar pelo filho, mas é essa a versão cristã. Talvez Colon nos quisesse dizer que a sua família era parte cristã e parte judaica, pois no cristianismo o mais importante é Cristo, depois Maria e por fim vem S. José, ao contrário duma família tradicional.

Na Sagrada Família Cristã, o filho Jesus não é natural, é adoptivo, como todos sabem. Reparemos agora na sigla. O X de Cristo dirige-se obliquamente para A do centro, tal como na outra esquina o Y de José. Pode bem significar que seu pai era um filho adoptivo de A. Sua mãe, mesmo em linha recta com esse A, pode querer dizer que descende também de A, desta vez directamente.

Com esta análise, defendi no meu romance a tese que os pais de Colon seriam um filho adoptivo de Henrique (no caso o Infante D. Fernando). Quanto a sua mãe, seria a filha natural do Infante D. Henrique, pois, segundo li nos livros de Manuel Rosa, existe um documento nos Arquivos do Vaticano em que o Infante de Sagres faz um pedido ao Papa para a sua filha natural.(6)

Desta forma, como não tenho a certeza, transmiti sob a forma de romance que Cristóvão Colon, gerado em Cuba e nascido talvez no Mediterrâneo, ou em qualquer terra das suas margens, poderia ter tido como pai o filho adoptivo de Anrique, ou seja o Duque de Beja, e eventualmente gerado por uma mãe, filha natural de Anrique e de uma mulher da família Abravanel. Naturalmente que o Infante D. Fernando, futuro Duque de Beja, teria contacto com a ignorada filha do seu pai adoptivo e com os nobres Abravaneis (até tinham brasão) que circulavam pela corte.


(continua ...)

(1) Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube, vol. XI, 1996, entrada Lucena, Vasco Fernandes

(2) Rui de Pina, Crónica do Senhor Rey D. Afonso V, cap. CXXXIV.

(3) Manuel Rodrigues de Freitas, “Ouro”, in Cadernos Vianenses, tomo 32, Viana do Castelo, Câmara Municipal, 2002: 186.

(4) Fina d'Armada, O Segredo de Fátima e Nostradamus, Ésquilo, 2004: 50.

(5) 1º capítulo de Historie del S. D. Fernando Colon, cit. por Manuel Rosa, “O Mistério Colombo Revelado”, Ésquilo, 2006: 476.

(6) “O Rev. Dr. Maurício dos Santos viu um verbeto do Cardeal Garampi que refere o pedido do Infante ao Papa a favor de sua filha natural” - Manuel Rosa, Colombo Português, Ésquilo, 2009: 305.