Um homem que sem nunca ter nada, fez tudo o possível para dar tudo aos seus filhos.
Um homem que preferia doer do que causar dor. Tanto amigo dos inimigos como dos amigos que sempre tentou manter a paz entre todos.
Meu pai, meu amigo e meu herói. Deus que permita que eu possa vir a ser metade do homem que ele foi.
Ele nunca atendeu a escola, aprendeu a ler um pouco com seu pai, Manuel Rosa (Rei), que era umas das poucas pessoas que sabiam ler no Valverde porque órfão de pequeno, meu avô, fora criado pelo padre que o ensinou.
Meu pai ensinou-se a si como escrever durante os meses que esteve internando no Hospital da Horta em 1967, à beira da morte com tubercolose.
Aqui vai um dos seus muitos poemas:
VERSOS EM POBRE RIMA
Se alguém disser se eu o conheço, lembro-me dizer-lhe assim
Como digo o que de ti penso, se não me conheço a mim?
Nem tu, a ti, te conheces, como queres que engano faça
Serás aquilo que pareces, mas nem conheces tua raça
O mesmo, eu digo de mim "Devo ser homem honrado"
Mas sem princípio nem fim, sou um calculo imaginado
(tirei dos meus cuidados)
Procurei ver-me dentro e fora, até dentro dos sapatos
Vou ver se me conheço agora, mas mal o provo nos retratos
Dentro deste fato que visto, a coisa que ao espelho vejo
Parece-me dizer isto, "Julgas passares por gracejo?"
Mas mesmo é certo que existo? Então pus-me a reparar
Fulano diz-me "Tu és isto", como é que pode ele acertar
Se o que eu sou mal conheço, o homem é um desconhecido
Pois dizem o que eu pareço, e não me acho nada parecido
Todo o homem é desconhecido, mesmo lidando com roupa boa
Está de si despercebido, só pensa "Sou boa pessoa"
Quem pudesse bem filmar, dois homens bem a sério
E fosse depois mostrar, as obras desse mistério
(um diria "Não sou isso" outro "Filmaste outra pessoa")
Era rir ás gargalhadas, discutindo as pessoas
"Não somos nós as filmadas, porque somos pessoas boas"
Isto pode-se bem fazer, mas só sendo ás escondidas
Porque se forem dizer, já se emendam de atrevidas
O mais fácil é dar conselhos, mais custoso nos conhecermos
Não nos conhecemos já velhos, e conselhos nunca os queremos
Francisco Garcia da Rosa –Fevereiro 1994
Foto com meu pai em 2007 no largo do Valverde e a casa nova no local onde estava a casa onde nasci. |
1967, meu pai estava internado no Hospital da Horta por um ano com tuberculose ficou minha mãe a tomar conta de 7 rapazes, o mais velho com 14 o mais novo com 2. |
Pai, que não sabes mais que isto
Pai foste e sempre serás até
Mas Pai Nosso! Jesus Cristo,
Só um pai teve e meu pai não é
Não é mais preciso ser crucíficado
Pai, só um Homem foi preciso
Podia ser que visse esse ditado
Utilizando menos coração e mais juízo
Um Pai, precisa ser só Pai
E até Pai só por enquanto
Um Pai precisa ser só Pai
Porque já temos um Espirito Santo
Pai que justiça não conheces
Conheces só manter a paz
Pai que se a Biblía bem soubesses
Tambem de justíça serias capáz
A injustiça sempre foi pecado
Contra os que estão inocênte
Mas meu Pai por ser sacrificado
Não tirará os pecados á gente
Não vai agora ao fim ao cabo
Sabendo tanto erro mal cometido
Não vaia ainda virar o rabo
Para poder ser mais bem batido
Nosso Senhor com certeza
Sabendo que é um filho seu
Não quer vê-lo nessa tristeza
Por coisas que outro cometeu
Sabe bem que nosso Deus é justo
E disse que não deixará entrar
Em sua casa embora por muito custo
Ninguêm que contra ele pecar
A coisa que tem que ser feita
Ás vezes custa mas tem que ser
Sem ferir a terra não se colheita
Sem colheitar não se pode viver
Se a força do mal é tão forte
E mesmo o Diabo enfrentar
Sabemos que só com a morte
A justiça final todos vamos buscar
Deus sempre nos dá a escolha
Para fazer o que é de fazer
Mas com olhos tapados não se olha
E aínda pior é olhar e não ver
Pai que força forte sempre teve
Sempre fugiu para a não usar
Mas ás vezes usar força se deve
Porque nem sempre se pode evitar
Deus próprio com sua vóz
Foi preciso muitos mandar matar
Sabendo que um podre entre nós
Muitos mais podres vem a dar
É certo que Deus não quer
Que se vaia enganar alguêm
Da mesma forma não deve sequer
Deixar-se ser enganado tambêm
Levanta-te de espada erguida
Com a cruz nem tudo é feito
Sabe que os cruzados na vida
Levam a sua cruz é no peito
Não é um pecado afirmar
Os direitos que são só seus
Pecado é vir a deixar ficar
Mais trabalho nas mãos de Deus
Porque se cada um tratasse
Das coisas como devia ser
Não havia mal que se aplantasse
E fosse deixado crescer
Seria curtado em menor
Quando aínda fácil de curtar
Deixando o mal crescer é pior
É mais difícil para endireitar
E cada dia que vai correndo
E vai-se o mal aumentando
Até que esse mal que está vendo
Vai tudo em redor alcançando
Desde o princípio da terra
Desde o bom andar á luz
O mal sempre veio em guerra
Para pregar o bom na cruz
Se há guerra contra a gente
Defender-se não é pecado
Pecado é ver o inimigo em frente
E deixar-se ser crucificado
Deus nos deu poder na vida
Para lutar com sua graça
Se a acção tem que ser cumprida
Não é esperar que Deus a faça
Então qual será a lição
O que é que a Biblía diz
Não é ser justo em coração
E a alma limpa como Deus quiz
Pois ser justo, isso fácil não é
É mais fácil deixar correr o mal
Se não é justo como é que tem fé
No que essa Biblía diz afinal
Dizem que quem deixa pecar
Tambêm assim vai pecando
Tal como o que deixa matar
É o mesmo que se tivesse matando
Se Deus quisesse que fosse assim
Deixar todas as coisas passar
Não precisava de Bibía enfim
Nem palavras para nos ensinar
O que é ser justo então
Ser justo é enfrentar o culpado
Não é ver um engano á mão
E vir deixar-se ser enganado
Ser justo não é esconder segredo
Nem é pretender que não sabe
Ser justo não é fugir com medo
E esconder-se até que a vida se acabe
Deus com toda a sua bondade
Passa justiça e enforça a lei
Pois não deve ser por vontade
Mas por ser um justo e honesto Rei.
Nunca foi fácil ser bom na vida
Ser-se mau é simplesmente alguêm deixar
Mau é uma viela tão simples escolhida
Que não precisa ninguêm ensinar
Ser bom, essa não vem assim
É defícil e precisa muita instrução
Foi o exemplo que Cristo deu enfim
Ser bom é preciso muita lição
Logo desde os primeiros passos
É preciso ensinar do fim ao cabo
Porque é sempre fácil abrir os braços
Para irmos abraçar o Diabo
E o que é que entende uma criança
Se não vem a ser discíplinado
Só aprende com a Diabo a sua dança
E a ver as coisas só do seu lado
Sempre foi o dever dos Pais
Guiar os filhos antes que se somem
Ensinar respeito, justiça amor e mais
Porque não se pode ensinar em homem
Em homem cada um decide por si
E há sempre o bom e o mal
Mas se nunca te ensinaram a ti
Como poderás escolher afinal
Não é tarde para concertar
Algo que esteja a ser mal feito
Só é tarde depois de se enterrar
Deixando tudo deste jeito
Um homem não pode entrar
Dentro do corpo de outro e vir
A alma daquele outro salvar
Cada um tem seus erros a corrigir
Pôr as coisas como devem de ser
Não sou Eu que tenho o direito
Porque é o seu trabalho e dever
Endireitar tudo o que foi dito e feito
Quantas vezes se vai esconder
Fugindo ao que tem que enfrentar
Em vez de rezar e pretender
Que tudo por si vai-se passar
O homem tem que ser justo de alma
Ser justo e direito cá na terra
Tenta-se fazer justiçca com calma
Mas se não der faz-se com guerra
Deus deixou sua lei escrita
E nasce já do nosso coração
Se fazer vida direito como fita
Para isso precisava muita lição
A justiça sempre foi justo
Sempre foi o dever do Rei
A qualquer tempo a qualquer custo
Tem que se enforçar a lei
O direito sempre foi direito
Sempre foi a lei que Eu ouvi
Não se deve deixar aos outros feito
Quanto menos deixar-se a si
Pai, que só sabes ser isto
Pai foste e sempre serás até
Mas Pai Nosso! Jesus Cristo,
Só um pai teve e meu pai não é
Manuel DaSilva Rosa
29 de Janeiro de 2000
Pai foste e sempre serás até
Mas Pai Nosso! Jesus Cristo,
Só um pai teve e meu pai não é
Manuel DaSilva Rosa
29 de Janeiro de 2000