No dia 20 deste mês de maio, o homem que erroneamente chamamos de Cristóvão "Colombo" morreu em Valladolid, Espanha, aos 51 anos de idade. A sua vida espanhola foi transformada pelas coroas espanhola e portuguesa num labirinto intencional para impedir que o público conhecesse a verdadeira identidade do descobridor. Conseguiram! Forçado a assumir uma nova identidade, Don Cristóbal Colón alcançou fama e glória em 1493 com este nome falso. Hoje, através de novas pesquisas e estudos de DNA, estamos mais perto do que nunca de descobrir o verdadeiro nome e genealogia que as cortes ibéricas esconderam do mundo há 500 anos. Certamente o Dom Cristóbal que escreveu que tinha 28 anos em 1484 nunca poderia ser o Cristoforo Colombo de Génova, que foi descrito no Documento de Assereto como tendo 27 anos em 1479.
CRISTOFORO COLOMBO versus CRISTÓBAL COLÓN
Cristoforo Colombo, the weaver from Genoa, was not
Don Cristóbal Colón, the navigator from Iberia
por Manuel Rosa
Doutoramento em
História Insular e Atlântica (Séculos XV-XX)
RESUMO
Cristoforo Colombo em Italiano ou Christopher Columbus em Inglês/Latim, são nomes atribuídos ao descobridor das Américas, com a pretensa naturalidade genovesa. De facto, não se encontra nenhuma evidência, hoje, que sustente esta afirmação porque o sobrenome que o navegador utilizava em Castela era Colón e nunca Colombo/Columbus.
Vários erros de interpretação nos relatos e crónicas contemporâneas, em conjunto com uma propaganda de desinformação do próprio navegador, dos seus descendentes e das cortes de Portugal e de Castela, ajudaram a criar um nevoeiro de incertezas intencionais sobre a identidade do navegador, o qual perdura até hoje. Como consequência destas incertezas houve, no século passado, uma aceitação geral indigitando um “Colombo plebeu tecelão genovês” como sendo o nobre “Don Cristóbal Colón, almirante, governador e vice-rei do Novo Mundo”.
O Navegador assumiu uma nova identidade quando entrou em Castela, cerca de 1484, e fez todo o possível para manter segredo sobre o seu local de nascimento, o seu verdadeiro nome e o dos seus progenitores. Em tudo isto — podemos afirmar hoje — foi ajudado pelas cortes de Portugal e de Castela. O seu filho, D. Hernando Colón, ao escrever a história do pai, não só manteve o segredo, mas aumentou ainda mais a confusão, fingindo ignorância. Além de grande parte da culpa sobre a confusão cair directamente sobre o Navegador e o seu filho, existiu também uma falha universal que marcou as várias investigações efectuadas.
Essa falha, que abrange todas as biografias, foi a geral minimização da vida portuguesa do Navegador, a qual alcança grande importância por ter sido em Portugal que Colón casou, aprendeu a navegar e passou grande parte da sua vida. A existência de documentos adulterados relativos à teoria do Colombo genovês, contrapostos às numerosas cartas e notas vindas do punho do Navegador, documentos da Corte de Castela, dos arquivos de Portugal, juntamente com as normas da sociedade da época, provam que o plebeu de Génova e o navegador que viajou em 1492, sob a bandeira de Castela, eram duas pessoas distintas, com dois percursos de vida diferentes, duas linhagens altamente ímpares e com raízes em reinos diferentes.
Inúmeros erros, despistes, desencaminhamentos, suposições e invenções dos biógrafos do passado, contribuíram ainda mais para baralhar esta história, reduzindo um almirante e vice-rei a um insignificante plebeu: um Colombo vindo do nada.
O filho do Navegador insistiu na sua crónica que o sobrenome correcto do pai, em latim, era Colonus e não Columbus. O Christopher Columbus, documentado como um insignificante tecelão em Génova, não era o almirante e vice-rei Christopher Colonus de Castela. Nem alguma vez poderá ser aceite o contrário, sabendo-se que o Navegador havia casado no seio da nobreza de Portugal uns 14 anos antes de se tornar famoso, após regressar da sua épica viagem, em 1493. Mais ainda, quando as normas da sociedade da época impediam plebeus de casarem com nobres, filhas de cavaleiros e de capitães, como era o caso de Filipa Moniz, esposa do Navegador. Qualquer dama nobre que casasse com um plebeu naqueles tempos, derrogaria a sua qualidade, e seguiria a condição e a fortuna plebeia do marido.
Acrescem à incerteza e à dúvida os factos de as filhas privilegiadas da nobreza terem vários impedimentos e regras relativos à escolha de um marido, que muitas vezes eram escolhidos pela família, ou pelas casas senhoriais a que pertenciam, e não pelo noivo ou pela noiva.
No caso de Filipa Moniz, filha do capitão de Porto Santo, haveria mais restrições por esta pertencer, não só à Casa de Viseu, mas estar ainda sob a protecção da Ordem Militar de Santiago, cujo governador era D. João II, sendo ela comendadora em Todos-os-Santos.
O que se consegue provar pelos documentos, tal como pelas regras da sociedade do Século XV, é que houve um erro de identificação no século XIX. Os investigadores confundiram o nobre navegador Colón com o tecelão plebeu Colombo, ficando este último com a glória que não lhe pertencia. Este erro de identidade e de nacionalidade parece ter já sido iniciado no século XVI, por motivos ocultos. O intento era manter para sempre oculta a verdadeira identidade do Navegador em Portugal. O plano foi quase perfeito, mantendo-se de pé até aos nossos dias, porque nunca se duvidou daquilo que vinha escrito nas crónicas portuguesas sobre um “Colombo italiano”.
Esta dissertação não só pretende deslindar toda esta intrincada trama, como procura repor a verdade, em nome do rigor e da ciência.
PALAVRAS-CHAVE: Christopher Columbus, Cristóvão Colombo, Cristóbal Colón, Filipa Moniz, Bartolomeu Perestrelo, Capitania de Porto Santo, Duque de Verágua, Diego Colón, Hernando Colón, Descoberta da América.
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