sexta-feira, janeiro 19, 2007

A MANTA DO COLOMBO É CURTA

A MANTA DO COLOMBO É CURTA

Perante o acumular de indicações documentais sobre a origem portuguesa do Descobridor das Américas e pela consolidação daquela que poderá ser a verdadeira história da sua vida, têm-se afadigado os indefectíveis crentes da novela genovesa a tentar tapar as partes que ficam a descoberto.
Para tapar as incoerências do nome, puxam a manta argumentando que Colón, Colom e Colon é tudo a mesma coisa que Colombo, tratando-se de versões iberizadas do nome italiano, embora não possam explicar como é que o Colombo-Pombo é o mesmo que Colon-Membro. Traduzem tendenciosamente mal um trecho da Historie de Dom Hernando Colón para “provar” que o filho do Almirante o chamou de Colombo; tentam “apagar” uma personagem dos livros de genealogia, porque lhes é incómodo que tivesse existido Cecília Colonna, provável ancestral de Colon, e inspiração para o pseudónimo escolhido. Mas destapam completamente os pés quando não aceitam reconhecer o nome Colon na carta do Rei D. João II e nas Bulas Papais.

Para tapar a reconhecida impossibilidade do casamento de semi-analfabeto tecelão com uma portuguesa de família prestigiada, puxam a manta para os dois lados: para um lado, já vão dizendo que Colombo não era necessariamente tecelão. Poderia ter sido um mercador nobilitado. Aqui condescendemos um pouco. Colombo não era, necessariamente, tecelão. A fazer fé nas actas genovesas, e aceitando que se tratava do mesmo personagem, o pai Dominico deixou a actividade de tecelão em Génova para se estabelecer como taberneiro em Savona. Cá está a subtil diferença. Um taberneiro sempre é um “mercador” de vinho, essa bebida nobre.
Puxam também para o outro lado, e Filipa Moniz Perestrello passa a ser apenas Filipa Moniz, e sobre de qual ramo proviria levantam as maiores dúvidas. Mas como isso não basta para tapar o facto de Filipa viver no Mosteiro de Santos, só ao alcance de famílias com nome, chegam a sugerir que Filipa seria uma das criadas.
Assim já todos percebemos. Colombo era um “mercador” e Filipa uma “serviçal”.
Mas a manta é curta. O “mercador” Colombo ter-se-ia interessado pela navegação atlântica porque recebeu do pai de Filipa (Bartolomeu Perestrello) o espólio que continha os mapas, cartas e segredos de navegação, e aproximou-se da corte de D. João II devido à influência da família de Filipa, sua mulher.
Tempos dourados aqueles. Bartolomeu Zé-Ninguém conseguiu casar a sua filha Filipa Serviçal com Colombo Mercador. Como dote, Zé-Ninguém deixou para o genro, todo o espólio recolhido nos caixotes de lixo das navegações portuguesas. O Rei D. João II , convidado para a grande boda da pelintragem, tornou-se especial amigo do Mercador. Não foram apenas os pés, todo o corpo ficou destapado. A manta do Colombo é mesmo muito curta!

Carlos Calado – Amigos da Cuba, 19/01/07

Nota: O blog Pseudo História Colombina (PHC) publicou em 18/1 um post que aborda questões que suscitamos no nosso post “Não sabem onde nasceu o tecelão Colombo”. Do post PHC retiramos os trechos seguintes:

(…) “também em Itália a naturalidade concreta de Colombo há muito que dá lugar a várias teses, das quais as duas principais se intitulam, respectivamente, tese clássica - aceitando como válida a identificação oitocentista com o tecelão urbano, também chamada por alguns não italianos extrapoladamente de tese genovesa - e tese purista, a que à primeira é contrária (…) (e) procura apurar a verdadeira naturalidade de Colombo entre os vários locais dentro dos antigos territórios genoveses, e sua filiação e linhagem. (…)
A tese purista, assim chamada em Itália por procurar ultrapassar, com recurso a outras fontes, os documentos de tabelionato aceites desde final de oitocentos a favor do Colombo tecelão - que têm problemas de exegese crítica nalguns pontos - apoia-se primacialmente na documentação salvaguardada de fins de Quinhentos, relativa aos processos judiciais que nessa época travaram falsos membros da família de Colombo, com alguns verdadeiros parentes do mercenário navegador
Assim, embora ainda não tenha conseguido apurar definitivamente a localidade exacta do nascimento de Cristóvão, a tese purista crê pelo menos ter bem conhecida e documentada a sua genealogia, e o ramo dos Colombo a que pertenceu, à luz das fontes conhecidas exaradas naqueles processos judiciais passados em julgado com força de sentença, naquela época ainda relativamente próxima dos acontecimentos.” (…)

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